segunda-feira, 1 de março de 2010

QUE CULTURA?

Que cultura?

Fala-se muito em cultura, inventam-se Capitais culturais, promovem-se concertos, exposições, feiras do livro e outros eventos semelhantes, mas quanto deste movimento chega aos cidadãos dos povos do interior?
O Estado, através do Ministério da Cultura, subsidia com centenas de milhares de contos, programas ditos culturais mas que disso não têm mais que o dito, ou quando o têm, apenas uma pequena parcela do povo a eles pode ter acesso, já que eu e um número incontável de cidadãos, porque aldeões das regiões mais distantes, de nada beneficiamos, conquanto comparticipemos neles financeiramente ao cumprirmos as nossas obrigações fiscais.
É lamentável que o Estado atribua anualmente, a pretexto de incentivar a cultura, chorudas verbas, retiradas do cofre comum, a quem nada de válido produz e que apenas vive para sugar o suor alheio.
Não estará assim o Governo a sustentar uns quantos parasitas que nada de culto nos oferecem, em prejuízo dos que realmente anseiam pela cultura e se querem valorizar?
Exemplos: os livros:
Há quem renegue o passado e se recuse a aceitar que nele tenha havido algo de bom, não sou saudosista, o passado é o passado, no entanto não posso deixar de lembrar os responsáveis para o facto, claro e positivo, de que durante algumas décadas, todas as aldeias eram servidas pelas Bibliotecas ambulantes da Gulbenkian e todos tínhamos acesso gratuito aos livros de que a mesma dispunha, quer para estudo, quer para consulta, comodamente instalados cada um em sua casa, mas, não sei porquê, esse serviço foi extinto e assim retirado ao povo o único meio de cultura visível e aproveitável.
Praticamente comecei a ler quando em 1966, e devido aos poucos afazeres que tinha, como militar adido no velho Regimento de Infantaria da Guarda me decidi a ir á Biblioteca da Gulbenkian, então instalada junto á Sé, saber se podia trazer os livros para o Quartel, como a resposta foi positiva, iniciei uma fase distinta da minha vida, lendo história, geografia, ciências sociais, alguns clássicos e mesmo após a passagem á disponibilidade não interrompi a ligação á biblioteca, já que esta, Segunda-feira sim Segunda-feira não, estava no Soito á disposição dos leitores, até que um dia foi-se e não mais apareceu.
Devo o pouco que aprendi para cá da primária, mais á Gulbenkian do que ao nosso sistema de ensino.
Hoje compro e leio livros, mas pago-os, já que o Estado em vez de subsidiar este tipo de material, taxa-o com Iva desincentivando e restringindo a leitura, impondo assim limitações àqueles que querem aumentar os seus conhecimentos.
Em meu entender, todos os livros, cuja matéria seja considerada de interesse pedagógico, ou que de algum modo sirvam para elevar o saber dos leitores, devem beneficiar de descontos especiais e ainda ser oficialmente incentivada e promovida a sua leitura, não é justo que o imposto, hoje neles debitado, vá depois parar ao bolso de um qualquer afilhado dos senhores que controlam a cultura deste país.
o teatro e da musica:
Á semelhança de outras vertentes da cultura, o teatro e a musica raramente chegam às nossas aldeias e quando acontecem são em geral pagos pelo povo através de comissões de festas ou organizações análogas, porém, esse não é o teatro e a musica de cariz cultural porque se anseia, mas sim o comercial, ainda que afecto aos legítimos interesses dos interpretes, aliás, neste tipo de cultura o Estado não disponde um centavo, pelo contrário arrecada o imposto com que o taxa.
Apenas há uma excepção: é quando recebemos por alturas de campanha eleitoral, alguns actores que são os políticos quando aqui vêm representar os seus papéis e que às vezes até nos dão música de graça.
Exposições e Museus:
Com regularidade e alguma frequência são feitas exposições sobre os mais variados assuntos nas grandes cidades, algumas programadas por entidades oficiais, mas mais uma vez os povos do interior são esquecidos, quanto aos museus, para além de se situarem fisicamente distantes, dificilmente quem trabalha os pode visitar, pois nos seus dias livres, a maioria deles estão fechados.
Se a todos os cidadãos é garantido o direito á cultura, esse direito deve ser expresso de maneira material, pondo á sua disposição os elementos existentes e possíveis.
De entre as várias soluções para que a cultura possa chegar a todos, porque não faz o Estado como algumas grandes superfícies comerciais que na impossibilidade de deslocar o espaço até aos povos, os transporta ou faz transportar gratuitamente até eles?

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