Era uma vez num país...
Houve em tempos num pequeno mas velho país da Europalia, situado na parte mais ocidental, um rei, que talvez iluminado por uma força misteriosa e insatisfeito com as injustiças que os seus vassalos impunham ao povo do seu reino, resolveu criar um ministério jamais existente, o da Equidade, que teria por missão pôr fim ao desequilibro social existente.
Embora a lei em vigor nesse país atribuísse direitos iguais para todos os cidadãos, na prática não os garantia de modo nenhum, devido ao comodismo e ao parasitismo da classe dirigente de então, única a dispor de direitos, imunidades e demais privilégios que concedia a seu bel-prazer, aos filhos, amigos e afilhados.
Assim, foi encarregado desse arrojado projecto, um dedicado cidadão, inteligente, capaz e esperançado em levar a bom termo a tarefa que tinha sobre ombros.
Metendo mãos à obra, isto é, à escrita, o dito ministro começou a decretar leis tendentes a atingir o objectivo a que se tinha proposto.
Revogou a lei que promovia apenas alguns à data da reforma para que esta fosse superior ao salário enquanto no activo, e a partir daí todos os trabalhadores, independentemente do estatuto da entidade patronal, receberiam reforma por igual taxa de percentagem e anos de serviço.
Decretou que os medicamentos custariam preço igual para todos os cidadãos, deixando de haver cidadãos de primeira ou de segunda classe, fossem eles beneficiários do regime geral, da função pública ou de outra qualquer entidade.
Levou a cultura, até então um privilégio quase exclusivo das grandes cidades, desde a música, teatro, bibliotecas, museus, exposições ou outras formas de arte, até ao interior mais isolado, para que também os aldeões a ela tivessem acesso e se pudessem valorizar em pé de igualdade com os citadinos.
Proveu a que a justiça fosse transparente e igual para todos, fossem ricos ou pobres e na qual cada arguido ou queixoso, teria obrigatoriamente o mesmo numero de defensores e com os mesmos honorários.
Criou um serviço de saúde eficaz e pronto a responder às necessidades de todos os doentes que seriam tratados por igual, independentemente da posição social que ocupassem, das propriedades, ou da conta bancária que possuíssem.
Decretou que a lei, sendo igual para todos, todos responderiam por igual e seriam penalizados os detentores de cargos públicos que desrespeitassem não só os códigos da estrada como outros códigos de ética ou conduta, tal como os demais cidadãos.
Deu por findos os privilégios imorais de que desfrutavam milhares de governantes, a quem estavam distribuídos vários carros, motoristas e outras mordomias acessórias, a partir de então passariam eles próprios a conduzir o seu carro aquando das suas deslocações.
Criou uma escola de formação para aspirantes a dirigentes ou governantes, onde aprenderiam os modos correctos de dirigir e governar o povo e não a servir-se dele para atingir os seus objectivos ou ambições pessoais, como estava a acontecer e tinha acontecido no passado.
Aboliu as diversas classes, nos transportes, nas salas de espectáculos, nos hotéis, fossem públicos ou privados, a partir daí só estaria disponível uma classe igual para todos.
Obrigou a trabalhar quem tivesse saúde e força e pôs fim ao parasitismo de que enfermava parte da sociedade.
Exigiu e conseguiu dos seus colegas de governo um maior nivelamento dos salários e pensões, afim de que todos se considerassem mais iguais e ninguém se sentisse diminuído.
Por fim, cansado de trabalhar e sujeito a constante pressão por parte dos “bem instalados”, para quem o muito é sempre pouco, esse ministro foi demitido e tudo voltou à situação anterior: a igualdade desejada não passou de pura fantasia e continuou para sempre a ser uma ambição utópica.
1 de Março de 2005
domingo, 7 de março de 2010
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