segunda-feira, 1 de março de 2010

O HOMEM: SER SUPERIOR?

O Homem: ser superior?

Aprendi no ensino primário que o homem é um ser racional e os restantes animais são irracionais, logo o homem pensa, os outros seres vivos não.
O animal (irracional) usa a força natural e instintiva para impor ao grupo a sua lei, do que resulta uma progressiva melhoria genética á medida que as gerações se sucedem, pelo contrário o homem (racional) ainda que portador de fraqueza física, se detentor de capacidade económica, pode dominar pela força das armas, uma maioria de consciência elevada mas incapaz de se defender, o que contribui de um modo anti natural para uma evolução negativa das consciências. Perante tais factos, reais, podia perguntar; que futuro reserva o homem a si mesmo?
O homem, por culpa de raciocinar, criou e desenvolveu uma teia de palavras nas quais se perde, confunde e desentende, de seguida decretou um emaranhado de leis que não cumpre e que são sempre insuficientes para regular o seu comportamento, no entanto se olharmos para os seres que o homem classifica de inferiores, constatamos que sem leis, apenas regidos pela lei natural a que obedecem, se comportam de modo muito mais racional e organizado e dão ao homem tremendas lições de vivência e convivência.
O homem existe e vive na terra há dezenas de milhares de anos e tem-na povoado até aos mais recônditos e inóspitos espaços do Globo, desenvolvendo ao longo de gerações sucessivas, uma experiência e cultura próprias de um ser evoluído, e tornou-se um senhor nos mais diversos campos tecnológicos que a cada passo inova e renova.
As suas condições materiais de vida estão cada vez mais facilitadas e as comodidades oferecidas aos cidadãos atingem graus ainda há poucos anos impensáveis.
As comunicações; deslocação de pessoas, troca de mensagens, tele conversação, transmissão de dados, correm hoje a uma velocidade milhares de vezes superior do que há apenas um século atrás.
A saúde, o trabalho, o lazer, enfim todos os sectores da vida, evoluíram positivamente para o bem-estar do homem físico, que se adapta com facilidade aos benefícios que lhe são proporcionados.
Perante as sucessivas invenções e aperfeiçoamentos de que o homem tem sido capaz, não se esqueceria ele de si próprio, do ser homem, em concreto? Que melhorias, no campo da moral, da tolerância do humanismo?
Tal como vai tornando útil, aquilo que o rodeia, o homem devia ter a preocupação de se tornar melhor a cada geração que se segue. O bem devia ser a sua aspiração primeira e única, no entanto vemos que é o mal que evolui de um modo satânico e que ameaça a humanidade de uma maneira terrífica na sua existência.
Passadas dezenas de milénios sobre o começo da vida, o aperfeiçoamento do homem, enquanto ser vivo, mantém-se sensivelmente ao mesmo nível se não houve até algum retrocesso, de nada serviram ou servem os escritos, as declarações ou os ensinamentos de alguns Profetas, de Socrates, de Cícero, do próprio Jesus Cristo, de Tomás More, de Immanuel Kant, ou de outros grandes homens inspirados, que através dos tempos chamaram o homem á razão.
Hoje estamos a assistir e a viver um dos mais tenebrosos e incertos momentos da vida do homem em que o terrorismo fanático e cego, mata sem escolha, inocentes indefesos e isso deve ser motivo de preocupação para todos os homens sensatos e maiores

Vemos que basta um qualquer líder, ou pseudo líder, religioso, fanático e sem escrúpulos, semear entre os seus fiéis a semente do ódio e neles incutir um sentimento perverso em relação ao seu semelhante, para esse veneno produzir um efeito devastador entre a humanidade, são esses, sobre quem devia recair a responsabilidade de uma maior tolerância e entendimento que causam tamanha onda de confusão, insegurança e medo.
Disse Nietzsche há pouco mais de um século, que (os maiores ódios da história foram sempre da responsabilidade de sacerdotes e os ódios espiritualmente mais elaborados, também...)
Aquilo que se passa nos nossos tempos em diversos lugares ou países da terra, praticado por alguns lideres religiosos: Jim Jones, David Koresh, Shoko Asahara, “Do” e “Talibãns” para apenas referir alguns de uma imensa lista, dá razão ao filósofo, já para não recuarmos dois milénios até a alguns líderes religiosos de Israel ou outros, que a história não se esqueceu de trazer até nós e que tiveram semelhante procedimento: fomentar o ódio.
O homem, ao deixar-se guiar por ideias alheias e a deixar que os outros pensem e decidam por si, e enquanto não for capaz de se libertar da menoridade e raciocinar sem que a interferência dos outros o limite nas suas obrigações ou direitos, será sempre um ser menor ainda que o não admita.
“Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento,” dizia Kant e continuava:
“A preguiça e a cobardia são as causas por que os homens em tão grande parte, após a natureza há muito os ter libertado do controlo alheio, continuem, no entanto, de boa vontade menores durante toda a vida. É tão cómodo ser menor, dizia ele.
Um dos males do Mundo, senão o maior, é exactamente a falta de discernimento de muitos homens, que por não quererem pensar, se deixam arrastar para interesses que não são os seus, e se tornam como que robôs obedientes ao dono e servidores dos seus cruéis instintos.
Termino, ainda com um trecho de Kant, que é uma opinião que partilho, e que foi escrito no último quartel do século XVIII: Se é um espectáculo digno de uma divindade ver um homem virtuoso em luta contra as contrariedades e as tentações para o mal e vê-lo no entanto oferecer resistência, é um espectáculo sumamente indigno, não direi de uma divindade, mas até do homem mais comum, porém bem pensante, ver o género humano a elevar-se de período para período á virtude e, logo a seguir recair tão profundamente no vício e na miséria.

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