Despovoamento
A pujança e a juventude das gentes nas aldeias da raia que nos anos cinquenta atingiram o seu auge, estão hoje reduzidas e condenadas a um definhar lento mas progressivo e praticamente irreversível.
O silêncio que se adivinha e constata em muitos povos deste marginalizado interior devido á inexistência de indústrias ou serviços que neles fixem os seus filhos e os leva a procurar outras terras que trocam pela sua por uma questão de sobrevivência é chocante e em muitos lugares outrora cheios de vida apenas ouvimos o chilrear de alguma ave ou o sopro do vento que não abalou e continua a agitar as arvores que restam.
Á excepção do mês de Agosto, que faz reviver outros tempos com o regresso dos emigrantes em férias, muitas das nossas aldeias parecem lugares fantasmas, sombrios e tristes, parados na quietude do tempo pois já pouco ou nada têm de aliciante que sirva de incentivo aos seus filhos para que nelas permaneçam.
No que se refere ao Soito e muito embora haja ainda um significativo e esperançoso número de crianças e jovens, podemos perguntar: quantos deles, quando chegar a idade da entrada no mercado de trabalho, vão ficar aqui a exercer a sua profissão? E que alternativas lhe oferece a sua terra ou a sua região para que nelas se fixem e contribuam para o seu engrandecimento? Nada ou apenas pouco para o muito que eles ambicionam.
Dos cerca de milhar e meio de residentes, um numero a rondar quase a metade tem mais de cinquenta anos, o que quer dizer que dentro de três décadas e a manter-se a actual taxa de natalidade, teremos pouco mais de metade dos habitantes e caminharemos para um despovoamento acelerado a menos que as entidades publicas, nacionais e regionais, se debrucem sobre o fenómeno e tentem alterar a situação não só para bem desta terra e arredores, mas também das cidades superpovoadas sem infra-estruturas que respondam ao crescente aglomerado populacional e sem rodovias suficientes ou capazes de escoar o elevado tráfego em tempo útil e aceitável.
A maioria dos filhos nascidos da minha geração abalou, e os filhos deles, nossos netos, vão perdendo a ligação às raízes que provavelmente serão ignoradas pelos seus descendentes.
Nunca como hoje se assistiu a uma tão grande oferta de venda de propriedades, rústicas ou urbanas, muitas casas estão desmoronadas ou em situação de ruína e a situação tende a agravar-se de modo irremediável com a diminuição de moradores que paulatinamente rumam a outros pontos do pais ou do estrangeiro.
O sector económico que podia ocupar milhares de pessoas na nossa região é sem duvida a agricultura, porém, devido ao artificialismo dos preços dos produtos, impostos não sei por quem e insuficientes para cobrir os custos de produção, os proprietários preferem votar os terrenos ao abandono e optar por outro meio de vida que dificilmente aqui encontrarão despovoando-se assim uma terra e uma região com vários séculos de história.
A qualidade de vida não depende apenas das facilidades que a cidade oferece, passa também pela paz, pela tranquilidade, pelo silêncio e pela gastronomia próprias da nossa região, haja quem valorize, promova e rentabilize tais qualidades e poderemos voltar a ser mais!
segunda-feira, 1 de março de 2010
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