No último sábado de Maio
Já o Sol havia rompido as trevas e a bruma da manhã desaparecia como que por encanto, quando dei inicio a mais um passeio que se alongou para lá dos subúrbios da nossa terra e se estendeu até bem próximo dos seus limites territoriais, Carvalheiras, Casa do Alto, Serra e Urejais.
Desejoso de viver algumas horas em comunhão com a Natureza, quis nesta manhã de Primavera, mergulhar por ela adentro, através de veredas que estão desaparecendo por falta de movimento e se vão tornando invisíveis, camufladas pela vegetação que cresce nas margens e se inclina como que a querer esconder os vestígios de um passado não distante.
A começar, vejo de um e de outro lado do caminho, as searas verdes, demarcadas por silvados quais sebes vivas impedindo a passagem e tornando-se senhoras do espaço que o homem vai deixando ao abandono, e dessas mesmas silvas brotarem as primeiras flores, humildes, ignoradas, mas belas e complexas, brancas ou levemente rosadas, logo, querendo fazer companhia ao trigo ou ao centeio que adornam, vejo floridas e rasteiras, as margaças ou as margaridas em muitas das suas variações, como raios partindo do sol e dando um toque de beleza a todo o conjunto.
Abundam também, salteadas aqui e além, as papoilas vermelhas de flores altivas e agitadas pelo vento, as violetas ou as campainhas do monte, as viúvas de um azul vivo que sobressaem entre as demais cores, ou ainda o pirliteiro a pimpinela ou a salsa brava, entre muitas outras variedades de flores silvestres que só um estudioso seria capaz de identificar correctamente.
Para além das conhecidíssimas flores amarelas da carqueja, do sargaço ou do tojo, aos rosados da urze e da inconfundível dedaleira até aos brancos dos malmequeres que de noite se recolhem para de dia mostrarem ao mundo todo o seu encanto e sedução, é visível nestes milhares de flores naturais e espontâneas, uma harmonia de matizes que o homem jamais seria capaz de construir.
Aqui, sinto-me acolhido como um rei pelas flores das giestas brancas ou amarelas, que debruçadas para as veredas a jeito de vénia me saúdam, pela erva fresca que cobre o meu caminho como se fosse um tapete, ou ainda pelo perfume do rosmaninho, da bela-luz ou da resina dos pinheirais, lançados ao vento, e que posso aspirar livremente sem pagar taxa nem imposto.
Não pude ficar alheio aos artísticos rebentos dos carvalhos, quando as pequenas folhas verde rosadas se mostram, delicadas como se de veludo fossem revestidas, das trepadeiras que se enleiam às árvores adultas como que a dar-lhe um abraço fraternal, nem dos fieitos verdes que sem a ajuda do homem formam autênticas carpetes flutuantes e apetecíveis a um merecido e fresco descanso.
Então e os fios de água cristalina que brotam da rocha e se encaminham para o vale saltitando por entre as fragas num eterno murmúrio, ou deslizando suavemente quase despercebidos entre a erva e que vão engrossar os regatos e rios atraídos pelo grande mar?
E as rochas graníticas, sujeitas às intempéries, que sofrem os efeitos da erosão, e expõem á minha admiração, figuras esculturais como se sábio mestre as tivesse esculpido?
Gravada ainda ficou em mim a imagem dos prados e das ervagens que albergam um sem numero de pequenas e belas flores onde os gados pastam mansamente, e em que apenas o tintilar das suas campainhas rompe o silencio acolhedor da natureza, mas também a imagem das aves que chilreando as suas melodias me envolveram com o seu maravilhoso canto a par dos grilos que imperturbáveis deram o seu contributo para esta sinfonia quase celestial.
Apesar de todas as maravilhas que o campo me oferece, há sempre algo que vem ensombrar a alegria incontida: é ver a vegetação morta pelos incêndios, que por desleixo ou maldade, devoram vastos espaços da nossa serra, e se é verdade que parte da vegetação é renovável anualmente, também não é menos verdade que muitas árvores assassinadas prematuramente, como os pinhos, carvalhos, castanheiros ou outras, para lá de deixarem a nossa terra mais pobre, privam-nos de poder assistir ou apreciar o seu desenvolvimento pleno até a uma maturidade que jamais chegam a atingir.
A Natureza é o melhor que temos, e alberga dentro de si um encantamento que muitas vezes se não vê, devido á distracção com que vivemos, é preciso que abramos os olhos e vejamos quanto é bela até nas mais pequenas e simples coisas, e assim a possamos proteger e defender, antes que ela cansada, seja incapaz de purificar o ar que poluímos.
Poder e saber apreciar o que de valioso e aprazível têm os nossos campos, é um privilégio que não temos o direito de dispensar ou desbaratar. Um passeio pelo campo, pode ter um efeito terapêutico, ou servir como lenitivo em algumas situações de Stress ou de outros distúrbios físicos ou psíquicos, nada custa experimentar.
segunda-feira, 1 de março de 2010
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