quinta-feira, 18 de março de 2010

Ensino Primário no concelho do Sabugal

As escolas primárias oficiais foram criadas por Decreto de 6 de Novembro de 1772, no tempo em que o Marquês do Pombal era Secretário de Estado de D. José I, embora para o sexo feminino só viesse a acontecer em 1815.
No actual espaço territorial que hoje compreende o concelho do Sabugal, onde estão incluídas mais quatro vilas que já foram sede de concelho, havia em 1836 apenas 5 cadeiras de “Mestres das primeiras letras”: Sabugal, Touro, Soito, Alfaiates e Vilar Maior.
Em finais de 1836 e no então concelho, já com o termo de Vila do Touro incluído, havia apenas três Mestres (professores) que eram os do Sabugal, Soito e Vila do Touro, na mesma altura o concelho de Vilar Maior, que absorvera o de Alfaiates em resultado do mesmo Decreto que extinguira o de Vila do Touro, tinha dois Professores o que ainda se verificava em 6 de Janeiro de 1839 e seriam o da própria Vila e o de Alfaiates.
Só em 5 de Janeiro de 1840, a Câmara de Vilar Maior pede a criação das cadeiras das primeiras letras para Nave de Haver e Aldeia da Ponte, mas em 1842, este concelho já tinha cinco professores que seriam Vilar Maior, Alfaiates, Aldeia da Ponte, Nave de Haver e Malhada Sorda.
O “Mestre de Ler” de Sortelha só aparece em 1837 (João Martins Carvalho) e quando este concelho foi incluído no do Sabugal em 24 de Outubro de 1855, continuava a ter apenas um professor conforme se pode ver nas contas de 6 de Novembro desse ano: pagamento de 10.000 reis ao professor, referentes aos trimestres vencidos em Março e Junho.
Ainda, no período 1836/1855 e no concelho do Sabugal de então, foram criadas mais duas cadeiras, a da Lageosa (1851) e da Nave em 1854 pois nas contas de 1854 aparece um valor de 100.000 reis dispendido com os cinco professores do concelho: do Sabugal; Padre António Carlos Bigotte, do Soito: Manuel Fernandes Ruço, da Lageosa: Padre António R. Gouveia, de Touro: Luís António da Fonseca e da Nave: Luís Cândido de Araújo Guimarães.
Assim, em 1855, no actual espaço do nosso concelho, havia apenas nove escolas, já que Malhada Sorda e Nave de Haver seriam mais tarde anexadas ao de Almeida.
Embora em 1844 houvessem sido decretadas sanções para os pais que não mandassem os filhos à escola, a verdade é que o mesmo Estado que fez este Decreto, não criou condições para que tal fosse possível porque a maioria das povoações continuavam sem escola e a distância a percorrer entre elas, em termos de tempo, era dezenas de vezes mais demorada do que é hoje, o que impossibilitava a deslocação de eventuais alunos.
Em 1866 já estavam instaladas no concelho 23 escolas, porém seis delas estavam fora do seu actual espaço; Miuzela, Castelo Mendo, Malhada Sorda, Nave de Haver, Freixo e Parada o que reduzia o número para 17, no entanto no ano seguinte já eram 19: Sabugal, Touro, Soito, Sortelha, Alfaiates, Vilar Maior, Aldeia da Ponte, Lageosa, Nave, Aldeia Velha, Bendada, Casteleiro, Pousafoles, Quadrazais, Santo Estêvão, Seixo do Côa, Vale de Espinho, Rendo e Aldeia do Bispo.
A escola do sexo feminino para o Sabugal só foi pedida em 1864 e criada oficialmente em 1867 tendo como primeira “Mestre das meninas” D. Brites Afonso Borrega.
Em Aldeia da Ponte e Sortelha foram criadas em 1880, Alfaiates e Vilar Maior 1881,Vila do Touro 1882, Pousafoles 1884, Soito 1888, Vale de Espinho 1889…
A título de curiosidade é interessante salientar que à data (1855) um professor ganhava 20.000 reis por ano, mais prémio de 50 reis por aluno, casa, mobília e outras prerrogativas que a lei lhe confere, enquanto que o cirurgião (médico) ganhava 10 vezes mais: 200.000 reis sem contar com outras ajudas a que tinha direito.
Em 1889 eram 1.236 os alunos que frequentavam as 24 escolas masculinas existentes enquanto que nas oito escolas do sexo feminino havia apenas 325 meninas o que somava um total de 1.561 alunos.
Na década1960/1970 todas as povoações tinham escola, incluindo as anexas, os alunos ultrapassavam largamente os três milhares, hoje, das mais de meia centena de escolas que então existiam no concelho restam apenas metade (27).
Na época escolar 1999/2000 matricularam-se nas escolas do concelho 514 alunos e na de 2004/2005 apenas 375 em 27 estabelecimentos de ensino entre os quais se contam 10 com apenas cinco alunos ou menos e 8 com entre 6 e 10 alunos.
Há ainda 10 escolas sem qualquer aluno no 1º.ano e quatro com apenas 1 aluno o que deixa antever um eventual encerramento a muito breve prazo de mais cerca de 15 escolas.
Perante estes dados preocupantes acerca da frequência escolar devido à falta de crianças, podemos concluir que se está a fechar um círculo, que, num vastíssimo espaço histórico, durou menos de século e meio, dado que muitas das escolas já encerradas ou que poderão via a encerrar, foram criadas na segunda metade do século XIX.
Sem pretender entrar no campo das hipóteses nem das “ciências de futurologia”, posso perfeitamente acreditar que daqui a poucos anos teremos, à semelhança do que já acontece em alguns concelhos, uma escola central para onde se deslocarão todos os alunos das redondezas, veremos!
Não havendo crianças não são precisos professores nem escolas e esse pressuposto aterrador pode bem ser real e estar mais próximo do que pensamos.
Estes dados são apresentados sem qualquer sentimento de pessimismo, são factos que podem ser confirmados e que nos devem levar a pensar no futuro.
Março de 2005

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