Pobres, mas alegres!
Se hoje vivemos num Mundo onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres têm cada vez menos posses, e se são evidentes os sinais que anunciam um contínuo agravamento, isso deve-se em grande parte à ambição insaciável do ser humano que se serve da posição que ocupa ou de quaisquer outros meios para esmagar ou reduzir o seu semelhante a uma espécie de servilismo material e escravatura moral, coisa que nenhum outro animal é capaz de fazer aos seus iguais.
Mas se hoje o homem explora e escraviza outro homem, à medida do poder de que dispõe e que lhe facilita a acção, não há nisso nada de novidade já que tal vem sendo feito desde os tempos mais recuados apesar de todos os sentimentos de fé que alguns se arrogam ou arrogavam possuir, mas com cujos ensinamentos e princípios não são coerentes, não seguem, ou não seguiram minimamente.
Ainda há cerca de meio século, muitos ainda se lembram, aqueles que trabalhavam a terra de outrem, recebiam pelo seu esforço médias a rondar 1/3 ou 1/4 da colheita por eles arrecadada, revertendo o grosso dos produtos para o senhorio que engordava a fortuna a cada ano que passava.
Também, quando por alturas de Maio após as sementeiras, as dispensas ou as arcas dos pequenos lavradores se esvaziavam, não raro eram obrigados por necessidade a recorrer a pedidos de empréstimo de batata, feijão ou centeio, sendo-lhe exigido passados 3 meses aquando da colheita o pagamento em dobro, o que equivalia a mais de 300% de juros e que obviamente deixava os pobres em condições de miséria continuada e impossibilitados de recuperar, sujeitos que estavam a uma espoliação concertada e até estatuída na pratica corrente. Apesar da maioria dos trabalhadores exercerem a sua actividade durante 12 ou mais horas e em condições hoje consideradas desumanas, o justo rendimento era-lhes negado devido à avareza e usura de alguns mais abastados, autênticos parasitas, que lhe sugavam o suor e o sangue sem dó nem piedade, deles e dos filhos que morriam à míngua.
Alguns proprietários, que usavam a mão-de-obra barata quando dela precisavam, não se envergonhavam de afirmar que os pobres deviam hibernar e só acordar quando eram necessários para cumprir as tarefas que a eles repugnava, tendo-os em conta de escravos inferiores aos animais domésticos, pois estes tinham a alimentação garantida enquanto aqueles eram privados do mais elementar direito; um sustento digno.
Apesar de todas estas situações degradantes e moralmente inaceitáveis, ainda restava aos pobres uma réstia de alegria feita de paz que exteriorizavam a cada hora livre como que a querer esquecer a aspereza e a severidade da vida com que haviam sido presenteados.
Hoje, muitos daqueles para quem a juventude foi madrasta no que se refere a bens materiais, têm mais património do que tinham os ricos de então e os seus filhos não sentem as carências que eles sentiram, no entanto aquela alegria espontânea que se via espelhada no dia-a-dia desapareceu e deu lugar à ambição do dinheiro ou à luta por ele como se fosse a principal meta a atingir e a sobrepor a todos os demais valores.
Que diriam os nossos jovens de hoje se, a cada um fosse fornecido um enxadão e durante uma dúzia de horas, fossem obrigados a arrancar cepas, ou então a arar a terra de sol a sol e ainda por cima mal alimentados?
Que pensariam as nossas jovens se voltassem as mondas, e elas ajoelhadas, rego após rego, arrancando as ervas daninhas como o fizeram as suas avós; cantariam todo o dia como elas cantavam as infindáveis cantigas que só a incansável cigarra ultrapassava?
O progresso e as máquinas, vieram facilitar a vida e retiraram aos homens muito do esforço que eram obrigados a despender, mas talvez lhes tenham roubado um pouco da alma e da calma campestre e despreocupada que em tempos foi só sua.
Apesar de “cumulado de bens” e de ter no bolso mais dinheiro, o ego do homem cresceu em orgulho e desceu ao nível de humildade e obviamente da alegria que acompanha esta. O homem actual não se sente feliz e satisfeito e isso ele o demonstra através de um comportamento semi apático, indiferente, introvertido e quase sempre em choque consigo mesmo e com o seu semelhante, o homem está cada vez mais longe de si mesmo, será que um dia se irá reencontrar e sorrir de novo? Terá motivos para isso?
segunda-feira, 1 de março de 2010
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