quinta-feira, 18 de março de 2010

O Edifício das Escolas do Sabugal

A cadeira de professor primário (mestre das primeiras letras) foi criada no Sabugal em princípios do segundo quartel do século XIX, mas a escola funcionava em casas arrendadas pela Câmara, em 1913 funcionava no antigo Quartel Militar que havia sido desactivado e sofrera obras de adaptação.
O projecto para a construção do actual edifício das escolas primárias data de 1911.
Em 29 de Novembro desse ano, a Câmara decide pedir ao Governador Civil, autorização para vender prédios imóveis rústicos que “produzem um insignificante rendimento e que têm estado sujeitos a irreparável usurpação. O produto da venda será destinado à construção de um edifício escolar nesta vila para o que também concorre a Junta da Paróquia com a importância que tem na Caixa Geral de Depósitos”.
As obras iniciaram-se em 1912 já que data de 9 de Outubro desse ano uma nota do vereador Mota informando a Câmara de que as obras não estão a ser feitas de harmonia com a planta e projecto o que levou a Câmara a convidar um empregado competente para vir examinar a obra, feito isto, apenas se notava um pequeno desvio num canto dos alicerces que em nada alterava o projecto pelo que a Câmara decide-se pela continuação das obras.
Para fazer face às despesas, a Câmara, deliberou em 21 de Dezembro de 1912, vender algumas das propriedades que possuía dispersas pelo concelho, marcando o auto de arrematação para o dia 25 de Janeiro seguinte.
Das propriedades vendidas salientamos apenas as maiores embora outras de menor valor tivessem sido alienadas; foi vendido o Chão do Enchido, nos Foios a Teresa Martins Pires por 1.325.000 reis e a Malhada dos Barreiros, também nos Foios por 405.040 reis a Manuel Joaquim Afonso.
Em 7 de Junho de 1913, a Câmara, após ter posto em praça os bens do Soito e da Lageosa sem que aparecessem licitantes deliberou marcar novo auto para o dia 22 de Junho às 12 horas.
Os do Soito foram vendidos nesse dia e eram os seguintes; uma propriedade no Carvalhal, a João José da Fonseca Garcia por 500.020 reis, a Sorte das Fontelas a José Carrilho, Manuel Manso Rito e José Augusto Manso por 400.020 reis, a Malhada de São Braz, a José Rito e Narciso Carrilho por 300.020 reis e outra nas Batecovinhas a José Manso Rito por 180.020 reis.
Havia já sido vendida antes, outra terra chamada Terra do Ribeiro, na Bendada, a José Pires por 221.000 reis em 7 de Agosto de 1912.
O Ministério do Interior, por lei de 17 Janeiro de 1913, vota uma verba de 200.000$00 para a construção de edifícios para as escolas primárias nos lugares onde qualquer corporação ou entidade se responsabilize em numerário, materiais ou trabalho por metade do dispêndio orçado, a Câmara propôs juntamente com a Junta da Paróquia custear metade da importância a gastar no edifício da escola solicitando ao governo a outra metade. (acta de Câmara realizada em 15 de Março de 1913)
A obra de pedreiro foi arrematada em Abril desse ano pelo valor de 2.322.900 reis.
Em 17 de Maio, segundo a Junta da Paróquia, já haviam sido gastos na escola 1.982.804 reis, sendo 1.854.970 reis ao Empreiteiro de pedreiro e ao condutor de obras público José Fernandes da Cunha e 127.834 pela planta, orçamento e fiscalização, faltando 477.930 para a conclusão das obras arrematadas tendo a Câmara deliberado colocar esta importância à disposição da referida Junta.
O auto de arrematação do telhado estava marcado para 27 de Setembro com a base de licitação de 974$00 mas devido a não ter havido interessados foi definido o dia 8 de Novembro de 1913 com um aumento de 5% em relação ao valor atrás citado, foi entregue a José Augusto Louro por 1.022$60, sendo fiador seu irmão Justino Augusto Louro e esposa Maria da Cruz Bigotte, estava pronto em 8 de Agosto de 1914, conforme informação prestada pelo arrematante.
Em 17 de Dezembro de 1917, a Comissão executiva da Câmara tinha em depósito e destinado às escolas um saldo de 1.037$22 proveniente de bens vendidos e 792$49 de dinheiros do Estado para o mesmo fim.
O Governo, através de circular, questiona a Câmara sobre os trabalhos das escolas (sessão de 14 de Junho de 1915) tendo ela solicitado ao Director das Obras Publicas uma avaliação dos trabalhos e a previsão dos custos para o seu acabamento.
Em 2 de Agosto do mesmo ano, é marcado o dia 30 para a arrematação das obras de carpinteiro, trolha e pintura cuja base de licitação se cifra em 4.087$00, na mesma acta dá-se conta do levantamento de 2.000$00 concedidos pelo Governo e destinados a esta obra.
Como não apareceram licitantes, a Câmara decide em 29 de Maio de 1916, pôr as obras de novo em arrematação com um valor 25% superior e em 14 de Agosto marca o dia 19 pelas 12 horas para a realização do auto com o valor base de 5.125$00 tendo sido entregues a Manuel Lourenço e Filhos por 5.025$00 (acta de 21 do mesmo mês).
Em 28 de Agosto de 1919 são levantados os 800$00 que o Estado depositara da Caixa Geral de Depósitos e destinados à mesma obra.
Devido ao encarecimento dos materiais e da mão-de-obra em consequência da guerra, o empreiteiro, em 11 de Agosto de 1920, informou a Câmara que só podia fazer as obras já adjudicadas mediante um aumento de 3.300$00 no que esta acordou, ressalvando que o pagamento só poderia ser efectuado após a Câmara receber os 5.000$00 que o Estado lhe atribuíra através do Decreto 6.118 de 20 de Setembro de 1919.
As escolas ainda se encontravam em construção em 21 de Dezembro de 1925, pois nesta data a Câmara delibera adquirir os materiais necessários e encarregara José Augusto Louro da mão-de-obra cuja despesa seria paga mediante apresentação de “folhas de jornais”.
O serviço de colocação dos vidros nas janelas e nas portas, bem como o primário, betume e tintas, foram adjudicados em 11 de Dezembro de 1926 a José Milagre por 3.000$00.
Em 20 de Agosto de 1927, a Câmara deliberou rebocar e caiar mais duas salas para instalar duas escolas que se encontravam a funcionar fora do edifício e deliberou mandar fazer orçamento para a conclusão das obras, tendo essas obras em falta, nas escadas e no andar superior, sido adjudicadas a Pedro Borges, estucador, em 31 de Março de 1928 por 1.500$00, sendo a Câmara a fornecer os materiais, mas em vez de estuque foi decidido colocar forro de madeira de pinho ao preço de 0$95 cada metro quadrado.
Não encontramos dados que nos permitam situar a data da inauguração deste edifício, sabemos sim que as obras se desenvolveram por mais de 15 anos, talvez devido às consequências nefastas da 1ª guerra mundial que absorveu uma grande parte do esforço colectivo.
Reparado há poucos anos, aí está o monumental edifício de que o Sabugal e o concelho se podem orgulhar, pois ali fizeram exame milhares de alunos vindos de todas as freguesias.
É sem duvida um dos edifícios mais emblemáticos da cidade e a imponência própria da época em quem foi construído, conferem-lhe ainda hoje um estatuto superior que facilmente pode ser comprovado.

Fev. 2005

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