quinta-feira, 18 de março de 2010

Dr. Armando Gonçalves

Homenagem

Não é nem nunca foi meu hábito, por princípio e pelas razões éticas que há muito me norteiam, adular uma pessoa seja ela abastada ou humilde, mas assiste-me o direito de prestar homenagem ou distinguir quem de tal for merecedor, segundo o meu próprio critério e sem alinhar a reboque de quaisquer interesses alheios ou duvidosos.
Não é a posição social ou politica que define a personalidade de um cidadão, mas sim o seu comportamento perante a sociedade e a capacidade com que actua dentro da esfera que lhe está cometida desenvolvendo a sua actividade de acordo com os valores dele esperados.
Apesar do materialismo estar a conquistar cada vez mais adeptos e a ser ignorado o respeito que todo o cidadão deve merecer, há ainda quem por respeito a esse mesmo cidadão, demonstre profissionalismo e espírito de entrega à missão por que optou, não sem alguns sacrifícios e privações de que por vezes nem damos conta mas que estão bem patentes no seu dia-a-dia.
É costume deixarmo-nos conquistar pelos dotes oratórios de um qualquer, sem saber quase nada do seu perfil moral ou humano, e render-lhe elogios imerecidos como se a simpatia de que possa ser portador, e nada mais, fosse o único padrão elegido para justificar a nossa rendição, ao contrário, há pessoas que dedicam a vida inteira ao serviço de uma comunidade mas que por ela são inocente ou deliberadamente esquecidas e subestimadas.
Habitualmente e não sei se por egoísmo se por orgulho, não reconhecemos em vida a valia de personalidades e a quem tardiamente depois de “deixarem de ser” homenageamos como que por vaidade e simplesmente para satisfazer o nosso ego.
A propósito e porque amanhã já pode ser tarde, quero prestar homenagem a duas figuras que embora separadas por cerca de quatro décadas têm em comum o múnus exercido ou a exercer nesta terra, a quem um deu e outro continua a dar, o contributo do saber adquirido e a colocá-lo ao serviço do povo, refiro-me a dois médicos a quem o Soito muito deve; primeiro o Sr. Dr. Armando Gonçalves, chegado ao Soito em 17 de Fevereiro de 1945 e que durante mais de meio século atendeu milhares de pacientes, tanto desta povoação onde residia, como de muitas outras aldeias do concelho, já que atendia os seus doentes também na Vila do Sabugal em consultório que durante largos anos ali manteve aberto.
Não faltarei a verdade se disser que com a sua chegada e mercê do seu trabalho e conhecimentos, diminuiu consideravelmente a mortalidade infantil nesta região e que não apenas por isso, a maioria dos habitantes desta terra têm para com ele uma divida de gratidão que, no meu entender, ainda estão a tempo de saldar, pois cinquenta anos de dedicação a um povo merecem ser comemorados, assim; porque não prestar-lhe um reconhecimento colectivo através da organização de um almoço de homenagem, de preferência organizado por iniciativa dos representantes do povo que foi beneficiado?
É apenas uma sugestão que tenho o direito de propor tal como as entidades referidas têm o direito de ignorar.
Também os inúmeros casos de sucesso profissional, ou até de insucesso que o Dr. Armando teve em mãos durante estas cinco décadas seriam motivo mais que suficiente para que alguém habilitado os pudesse descrever em livro perpetuando assim uma vida que está a esgotar-se no tempo mas que a memória não devia esquecer.
Outra personagem digna de relevo que podemos apelidar de o continuador, é o Sr. Dr. José Serra que vai quase em duas décadas serve os doentes desta Vila numa disponibilidade efectiva nem sempre compreendida por alguns (quem é que agrada a todos?) e que bastas vezes sacrifica as suas horas normais de almoço, e quantas de justo ócio? a favor do atendimento aos doentes sob a sua responsabilidade.
Por último quero dizer que embora do ponto de vista externo, ser médico se nos afigure uma profissão de sonho, não é realmente o que parece, e só quem está inserido nos meandros da actividade ou dela for um pouco conhecedor, pode avaliar o sacrifício que tantas vezes se lhes depara e que são obrigados a enfrentar, pois, a poucas mais profissões é exigido tanto como a um profissional médico.
Dez 2002

Sem comentários:

Enviar um comentário