Crise?
Vivemos numa época de contenção e apertar de cinto, resultado do esbanjamento e “imprevidência anterior”, no entanto nem todos os cidadãos são atingidos pelas dificuldades que no geral o país atravessa.
Enquanto a maioria das famílias se vê a braços com uma diminuição bastante significativa do rendimento familiar, face a vários factores negativos como o desemprego, endividamento exagerado, permitido e fomentado pelo Estado que é o maior devedor do país, diminuição do poder de compra ou outros sinais de recessão não só nacional como internacional, outras há que fazendo alarde do seu poder económico, adquirido sabe-se lá por que meios, dão mostras de uma grandeza e opulência chocante e cuja vivência, alheia às dificuldades, é bem o espelho do largo fosso que separa os ricos dos pobres e que não pára de distanciar-se.
Enquanto a uns é passada a factura da crise, que são obrigados a saldar, outros vivem ao lado e podem até em resultado disso engordar mais a sua já grande fortuna, e assim, adquirir bens no valor de milhões, impensáveis ou mesmo utópicos para a maioria dos cidadãos.
Num artigo da “Visão” é bem demonstrado o que acabei de escrever e dela retirei algumas notas que cito por dever de justiça e para que se saiba;
A venda de automóveis desceu mais de 24%, contudo marcas como a Ferrari, a Bentley, a Aston Martin, a Maserati, a Porche, a Lanborghini ou outras marcas altamente sonantes e inacessíveis para a maioria dos portugueses, aumentaram as suas vendas; a Porche que está a construir para todo o Mundo uma série de apenas 1.500 modelos Carrera GT no valor de meio milhão de Euros (cem mil contos) tem já reservadas as cinco unidades destinadas ao nosso país, a China por exemplo, se fosse seguido o critério percentual de atribuição deste modelo, teria direito a 650 carros o que não penso possa vir a acontecer.
A Bentley que vai lançar o novo Continental, a sair até ao fim do ano, tem já 5 reservas apesar de o preço rondar os 400.000 euros.
Mas a demonstração clara de que para alguns a crise passa à distância, não se fica apenas pelos automóveis; enquanto se nota uma descida acentuada na venda de apartamentos de valor baixo ou médio, o mercado mostra-se incapaz de responder à procura de casas de luxo no valor de milhões de euros que não pára de crescer e esgota toda a oferta disponível.
A alta relojoaria vende como nunca; os anéis da Mauboussin são um sucesso de vendas apesar de o modelo da versão base custar cerca de 1.750 euros e os relógios de séries limitadas esgotam rapidamente apesar de sobrevalorizados.
As malas de senhora das marcas mais conceituadas e que podem custar até 3.500 euros esgotam-se o dia do lançamento, o mesmo acontece às carteiras apesar do seu preço atingir mais de 1.500 euros.
A linha de produtos da LV (Louis Vuitton) apresentada em Lisboa no dia 10 de Abril quinta-feira, esgotou-se e no dia seguinte já não havia produtos disponíveis.
Então e as viagens? Se por um lado muitos dos agentes envolvidos se queixam da crise, por outro as viagens de sonho esgotam a oferta apesar dos preços astronómicos; há pouco mais de um mês 200 portugueses rumaram à volta ao Mundo num Airbus 330 desembolsando cada um cerca de 7.000 euros pelos 17 dias da viagem.
Há crise, todos o sabemos, mas nem todos a ela estão sujeitos.
Abril 2003
segunda-feira, 8 de março de 2010
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