quinta-feira, 18 de março de 2010

Precisa-se....

“Precisa-se de matéria-prima para construir um país”?

Qualquer texto, ideia ou opinião, ainda que aceitáveis, estão sempre sujeitas ao contraditório e muito embora felicite Ácido dos Prazeres pelo artigo que fez transcrever no penúltimo número deste Jornal, não posso deixar de fazer alguns reparos.
É, conforme o autor fecha o artigo, de meditar, por isso mesmo aqui estou como leigo a reflectir em pontos que entendo desajustados à verdade e contribuir para que haja uma discussão mais alargada e eventualmente conclusiva.
Realmente a mesma “matéria-prima” que no nosso país tem todos os “defeitos e vícios” apontados, contribui, em muitos países onde se instalou, para a criação de riqueza e desenvolvimento dos mesmos o que não pode ser negado por quem quer que seja.
Então porque razão no país de origem não acontece o mesmo?
A verdade é que desde há já muitos anos, os nossos governantes incapazes de tomarem medidas capazes de solucionar os problemas de uma sociedade que lentamente se afunda, criaram uma nova classe de portugueses aos quais paga para estarem quietos, sobrecarregando nos restantes um maior esforço para alcançar a média de rentabilidade exigível.
Também é verdade, como dizia Maquiavel, que “aquele que tenta impor uma nova ordem tem como inimigos todos aqueles a quem a antiga ordem aproveitava,” inibe, ou pelo menos condiciona os governantes, que se apegam ao lugar defendendo-o, e não ao cargo exercendo-o, o que leva a que muitas das desgraças com que o país se enfrenta resultem da ineficácia das leis, apesar de o país sustentar, no luxo, milhares de cidadãos com poderes legislativos ou a eles ligados, despreocupados e alheios daqueles que os elegeram ou sustentam.
Quanto à frase “… essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui…” não corresponde à realidade; o que se constata desde há muito é que a corrupção, tal como o exemplo, vêm sempre de cima, qual efeito de pirâmide que vai alastrando a base até parâmetros insustentáveis.
Já há cerca de 2.500 anos, Sólon queria legislar no sentido de que “todos os cidadãos prestassem contas da maneira pela qual ganhavam a vida”, tantos séculos passados Portugal, e não só Portugal, continua a ser um paraíso para os tais “espertos” que o autor refere, mas disso somos todos um pouco culpados por omissão, já que em presença ou conhecimento do erro, somos como que dominados por um misto de desinteresse e cobardia colectiva; não agimos nem reagimos apenas existimos.
Se todos nós, portugueses, somos um pouco culpados pela situação a que chegámos, maior grau de culpa tem quem nos dirige ou tem dirigido, pela incompetência e pela passividade, e isto não se aplica só aos últimos ou actuais governantes, mas a todos os que tiveram cargos com poder de decisão desde há largas décadas, por isso estamos hoje a pagar pela falta de planeamentos anteriores: temos licenciados a mais em muitas áreas e necessidades urgentes em outras bem vitais ao bem-estar da população e essa responsabilidade não a podemos assacar ao povo a não ser pelas escolhas erradas que tem feito ao longo da sua vida democrática.
O país tem “matéria-prima” capaz de produzir, precisa é de dirigentes e empresários competentes para fazer uma boa gestão a fim de aproveitar todo o potencial de que dispõe.
Dez.2005

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