sexta-feira, 23 de abril de 2010

Revolução e liberdade!!!

Revolução e Liberdade

Vão comemorar-se 43 anos, sobre a data em que se realizou a revolução do 25 de Abril e é tempo de fazer um balanço do que de positivo, ou negativo, esse dia trouxe aos cidadãos deste País.
Claro que não sou nem me arvoro em comentador de causas políticas, mas tenho ideias, conceitos e conhecimento de causa que muitos dos Portugueses não têm, já que á data da revolução eu já contava com mais de trinta anos de vida.
Foi de louvar a atitude do povo, educado e respeitador, que á data, procedeu com maturidade, frente a alguns interesses porventura obscuros e apoiou sem reservas a revolução dos cravos, se fosse hoje, seria igual?
A revolução (dizem) foi feita pelo povo e para ao povo dar benefícios e direitos, o que a meu ver, hoje não corresponde á verdade, pois se pesarmos os prós e os contras não sei para que lado cairá o prato da balança.
Uma revolução tira regalias a uns para as dar a outros, mas apenas às classes governantes pois que jamais povo algum no Mundo obteve dividendos de qualquer revolução.
Antes não se podiam comentar nem criticar as ideias ou as posições dos representantes do Estado, já que eles seriam os únicos donos da verdade, hoje podemos fazer isso, mas de que vale o homem poder falar, se a sua ideia ou projecto não é sequer ouvida nem tida em conta pelos políticos que continuam como dantes a fazer igual ou pior e só o que bem entendem.
O povo é sempre apontado pelos políticos como sendo a razão da sua luta, mas isso não passa de pura demagogia e todos nós o sabemos perfeitamente.
A liberdade que alguns apregoam, será mesmo liberdade, ou não passará de libertinagem ou semi anarquia, onde uns quantos violam os direitos de muitos mais em seu benefício pessoal ou familiar?
A liberdade só existe se existir direito, segurança e justiça, o que não está minimamente garantido, porque uns poucos continuam a ter regalias, imunidades e a usufruir de privilégios, enquanto a maioria do povo continua a ser explorada e tratada como gente de segunda classe.
Se liberdade é haver quem legisle para si próprio, salários e reformas astronómicas, vivendo uma vida faustosa, e dar esmolas de sobrevivência e miséria ao povo.
Será justo e democratico, num país dito moderno e socialista (de nome) haver quem ganhe num ano tanto como o que um cidadão a ganhar o salário mínimo nacional ganharia em 500 anos?
Se liberdade é promover ou tolerar a violência, os vícios, a droga, a calúnia, a corrupção, o saque de valores pessoais ou nacionais e o derrube dos valores morais, então o conceito que tenho de liberdade está errado.
É ou não verdade que muitas vezes é dada protecção a criminosos, como se cometer um crime fosse um direito ou para isso lhe fosse dada liberdade, enquanto as vítimas são ignoradas e esquecidas no tempo?
As Associações para defender réus e criminosos, proliferam com nomes sonantes mas quantas existem para defender as vítimas?
Termino por dizer que pouco vale a um cidadão poder falar e ter liberdade de expressão, enquanto houver direitos que não lhe são garantidos, como sejam a segurança, a saúde e principalmente a dignidade ou a honra, hoje tão escamoteadas.
Para terminar: Que valor tem hoje a vida de um cidadão, comparando com 30 ou 40 anos atrás? Meditem!!!!
Fevereiro de 2017

quinta-feira, 18 de março de 2010

ENVELHECIMENTO DA NAÇÃO

Durante o percurso das Nações ao longo da história, momentos houve em que algumas delas se sentiram despovoadas e a envelhecer devido ao desequilíbrio numérico entre jovens e idosos, motivado por calamidades, naturais ou provocadas, principalmente pelas guerras, e isso preocupava os governantes que eram obrigados a legislar no sentido de modificar o rumo das coisas.
Sabemos que em 1940 havia em Portugal 20 idosos para cada 100 jovens e em 2001 a relação já era de 107 para 100, situação problemática mais que suficiente para preocupar as entidades governamentais no sentido da busca de soluções e apresentação de medidas que conduzam a um retrocesso neste caminho que pode levar à agonia um povo ou uma raça inteira o que já não seria inédito.
Já na antiga Roma, e segundo Montesquieu em “Do Espírito das Leis”, principalmente nos tempos de César, Augusto e Tácito, e perante situações semelhantes, fizeram-se publicar leis tendentes a aumentar os nascimentos: eram premiados aqueles que tivessem mais filhos; tinham lugar reservado no teatro, eram os primeiros a receber honras e os que tivessem três filhos estavam isentos de todos os tributos pessoais.
Havia incentivos do Estado para levar os homens e as mulheres ao casamento e a terem filhos mas também havia penalizações: as mulheres solteiras ou viúvas com menos de 45 anos e sem filhos; estavam proibidas de usar pedras preciosas ou de se servirem de uma liteira, o que de algum modo servia para as pressionar a ter filhos situação da qual lhe adviriam algumas regalias.
A Lei Romana dava aos maridos ou ás mulheres que sobrevivessem ao conjugue, isto é, ás pessoas viúvas em idade de ter filhos, o prazo de dois anos para contrair novo casamento e aos divorciados apenas um ano e meio.
Eram as famosas leis Julias, que embora hoje não possam na sua totalidade ser postas em prática, contêm muito de positivo e sobre cujo conteúdo, os nossos legisladores deveriam reflectir.
O problema não se resolve com medidas avulso tomadas por esta ou aquela autarquia mais sensibilizada para a questão, são necessárias medidas de fundo, de política nacional e, à semelhança do que acontece em casos difíceis, criar grupos de trabalho que envolvam políticos, sociólogos, legisladores, juristas, etc. para que apresentem sugestões.
Se nada for feito a breve prazo, o país afundar-se-á enquanto o legislador dorme, sendo certo que dentro de algumas décadas os portugueses de raiz serão uma minoria dentro do seu próprio país, tornando-se súbditos de culturas ou valores importados que lhes são alheios.
Dizia ainda Montesquieu, “a cidade não são os edifícios, são os homens quem a forma”, ora vemos hoje centenas de aldeias e vilas do interior que há cinquenta anos estavam cheias de vida, habitadas por uma população reduzida (alguns povos perderam 80% dos habitantes, ou mais) e envelhecida, o que pode levar a que dentro de poucas décadas se transformem em autênticos ermos onde apenas vaguearão os fantasmas do passado.
(No caso especifico do nosso concelho (Sabugal) que em 1940 tinha 41.909 residentes, passou em 2001 para 14.871 o que significa uma perda de 65%, contando-se, como já foi dito, algumas freguesias que perderam 80% da sua população.
A própria sede de concelho que tinha 3.050 habitantes, viu o seu número reduzido para 2.174 o que implica uma redução de 28%.
Se atendermos aos números fornecidos pela estatística e tendo em conta que os 35% de habitantes que restam no concelho (em relação a 1940) são na sua maioria idosos, fácil será adivinhar o futuro a menos que alguém, possuidor de uma varinha mágica, inverta o processo que há algumas décadas vem devorando a nossa população de modo a que volte a haver vida nova suficiente para equilibrar a relação nascimento/óbito.)
Na ausência de soluções naturais, poderemos a médio prazo, caso não haja outra opção, confrontarmo-nos com a manipulação genética do ser e a fecundação de embriões por métodos anti-naturais, (coisas que a ciência é já capaz de fazer) o que pode conduzir a uma ainda maior ou total desumanização da sociedade, pôr em causa a civilização tal como hoje a vivemos e entrarmos num futuro tão fantástico como perigoso.
Jun 2006

A HISTÓRIA NÃO SE VENDE.

A história de um povo é a memória do seu passado e esse passado mede-se pelos feitos dos seus filhos, ou por aquilo que é ou era seu, e chegou até nós.
A história escrita tem como suporte as coisas físicas e a sua credibilidade assenta nesses testemunhos, sejam eles construções, utensílios pessoais ou agrícolas ou ainda quaisquer outras peças que possam atestar a existência das gentes em determinada época.
Podem tais vestígios parecer simples e desprovidos de valor comercial, podem até á primeira vista parecer apenas trastes inúteis, mas ainda assim, podem esconder décadas ou séculos de uma história que nos cabe preservar e transmitir.
A propósito de história, cada um vai escrevendo a sua, conforme o comportamento com que se digna viver, sendo certo que às vezes por desconhecimento, esse comportamento não é o mais adequado e útil á comunidade em que vive, mas pode em certos casos ser-lhe pernicioso.
Hoje, mais que ontem, há povoações do interior, e o Soito não está excluído, que estão a ser literalmente pilhadas do seu património histórico em favor de outros povos, instituições, museus ou coleccionadores particulares, por alguém feito mercenário, que a troco de uns patacos, alicia os proprietários ou detentores desses bens, levando tudo o que seja velho e contribuindo assim para o desenraizamento histórico
A identidade dos nossos ascendentes, pode ser adivinhada hoje e no futuro, pelos objectos ou fragmentos por eles deixados e que estejam á disposição dos estudiosos, mas se esses elementos desaparecerem, desaparece a possibilidade de obter tais informações e por conseguinte de fazer história.
Sei que não tenho autoridade moral para dar conselhos a quem quer que seja, no entanto não posso calar a afronta que sinto ao saber que estamos a esvaziar a nossa terra de valores e peças insubstituíveis e fundamentais para figurarem no futuro Museu da freguesia.
A história não se faz do vazio, pois um povo sem história é um povo sem memória, e é essa memória que a todos nós é pedida, para que o Soito no futuro tenha o passado que muitos hoje lhe querem negar.

Pedofilia

Congratulo-me por haver hoje, jornalistas de coragem e meios de comunicação que não se submetem ao Poder, seja ele de que tipo for, e que graças a eles todo o Mundo ficou a saber dos escândalos da pedofilia, que durante décadas semeou o terror e a vergonha em Instituições julgadas credíveis e respeitáveis.
Não pretendo condenar qualquer Instituição em si, nem contribuir para o seu descredito, porque tenho a certeza que a maioria dos seus membros é honesta e não merece estar a passar por esta afronta, mas como cidadão, pai e avô, não posso deixar de me sentir revoltado como toda a situação acontecida e com o repetido silencio, ou até encobrimento dos factos, pelos responsáveis administrativos e governamentais e por uma grande parte da nossa hoje tão desacreditada justiça, que não soube ou não quis investigar, talvez pressionada por gente altamente bem instalada nos corredores dos salões da governança, sob cujo manto se aquecia.
A teia, volumosa e bem urdida, rompeu-se, e ao olharmos para o lado de lá, ficámos a saber que convivemos com monstros da pior espécie, que embora de “colarinho branco” são capazes das maiores atrocidades e abusos, que a dignidade humana é para eles de somenos importância, e que face ao dinheiro que têm, ou ao apoio dissimulado mas incontestável de gente influente, se julgam imunes á justiça e donos da vontade alheia.
Investigar e averiguar a verdade, é uma exigência nacional, e as palavras tantas vezes repetidas de que “ninguém está acima da lei” devem passar a fazer parte do código de honra de investigadores e magistrados que não podem descansar até que os culpados sejam conhecidos e julgados segundo a medida exigida por tão malévolo comportamento.
Acredito na justiça, mas como cidadão quero que essa minha fé seja provada neste processo invulgar, não se copiando os resultados de outros processos em que são sempre os mais fracos a arcar com as sentenças condenatórias e a pagar os erros dos poderosos e influentes, é preciso punir, de forma exemplar, todos aqueles que praticaram tais actos aberrantes e também aqueles que através de conivência, activa ou passiva, o permitiram, calaram ou obrigaram a calar.
Portugal tem estado de tanga, agora está de rastos, aliás inserido numa Europa podre, cujos governantes também não estão isentos de culpas em toda esta emaranhada teia de contornos astronómicos, porque a inércia e o silêncio a que se remeteram, não é mais que a prova de que algo poderoso mas perverso os conduzia e limitava.
A justiça, tem neste caso uma oportunidade única de se redimir perante a opinião pública e de fazer esquecer os desleixos verificados em muitos outros, creio que os olhos da maioria dos portugueses estão postos nesses profissionais e esperam deles uma nova atitude perante o crime sobre inocentes.
É ainda reprovável e inaceitável que alguém, seja quem for, pretenda admitir como inimputaveis os malfeitores que durante décadas actuaram de forma consciente sobre seres indefesos e os sodomizaram, mais, é incompreensível que a lei permita a prescrição dos processos que envolvem atentados contra menores e, particularmente, revolta-me ver e ouvir alguns senhores ligados á justiça, apresentar todo o tipo de argumentos para defender os criminosos sabendo a verdade mas obstruindo-a e combatendo-a apenas por dinheiro ou por pressão de quem o tem.
Creio que a todos os profissionais deve ser exigido um mínimo de dignidade, mas muito mais a quem lida com a justiça.
No caso hipotético de estarem implicados cidadãos beneficiados com qualquer tipo de imunidade, deve o Parlamento, por dignidade e respeito, retirar de imediato esse privilégio, não permitindo que a justiça seja amordaçada por qualquer tipo de coacção ou impedimento.
Senhores legisladores, não adormeçam nas vossas cadeiras nem as usem para a intriga pessoal, mas acordem para a realidade, olhem á vossa volta e actuem.
Dizia Emmanuel Swedenborg pensador sueco que viveu no século XVIII: A consciência é a presença de Deus no homem, tanto quanto me é dado perceber hoje, vejo que essa presença se está a desvanecer numa grande parte da sociedade que se vai degradando a um ritmo assustador.
Caso me fosse colocada a possibilidade de votar em referendo sobre se os culpados mereceriam a castração, não hesitaria em concordar, basta de condescendências.
Para terminar gostaria de dizer, que se como é habitual, os poderosos implicados forem ilibados das suas responsabilidades e não for feita justiça, bem posso pedir aos nossos cientistas: por favor usem o vosso saber, importem células do Baltasar Garzon e façam vários clones que bem precisos são!

Doença perniciosa.

O homem, animal influenciador e influenciável, desce ao mais baixo nível entre todos os seres vivos, quando julga os outros baseado naquilo que ouve e torna credível sem mais averiguações, assumindo como certeza e verdade sua, a mentira ouvida, e a propaga, tomando sobre si parte da responsabilidade pelo boato, pela calúnia ou pela infâmia que invariavelmente atinge inocentes alheios a todos os ardis sobre si inventados com malévolas intenções.
Há uma grande parte de palavras ditas insinuosas, que têm por fonte seres invejosos que geram um tipo de veneno altamente contagioso e que contaminam os menos prevenidos levando-os a colaborar em tal arbitrariedade e a propagar tal doença, descarregando todo o seu peso num cidadão, que sem ser ouvido é condenado em julgamento público á boa maneira da Inquisição ou de uma qualquer crença ou ideia totalitária.
Poucos se dão ao trabalho de saber a verdade, basta um qualquer intriguista ou maledicente, movido não sei por que princípios, pensar em denegrir a imagem do outro e ai vai a maioria boateira seguir-lhe as pisadas e como dizia Nietzsche usar “a lisonja, a mentira e a fraude, o falar nas costas dos outros...” sem ter em conta o respeito devido á dignidade e ao bom nome de cada um, aprestando-se mais a propagar o mal, ainda que na incerteza, do que o bem, feito e confirmado.
A um homem digno, responsável e respeitável não lhe basta saber e crer na fonte, precisa indagar da qualidade da água, coisa que nem todos fazem.
Quando um cidadão, sem provas e apenas baseado em depoimento suspeito dá seguimento a um boato, está a dar provas de uma menoridade moral gritante e a dar a conhecer um qualquer tipo de neuropatia escondida e não merece a confiança de quem o ouve que de futuro ficará alerta.
Ninguém é dono da verdade, logo, ao ouvir a versão de dois contendores será impossível tomar partido por qualquer deles, daí que a prudência aconselhe moderação nas palavras e travão na transmissão dos boatos que não raras vezes acabam por cair na cabeça de quem os inventa e transmite, como podemos queixar-nos das atoardas e boatos veiculados pela comunicação social, se nós fazemos exactamente a mesma coisa e propagamos muito mais depressa o mau e negativo enquanto ignoramos (de propósito?) o que de bom acontece?
Todos devemos abdicar um pouco do orgulho que nos caracteriza e assumirmo-nos como realmente somos: frágeis seres de condição limitada em passagem pela Terra.
É Natal, não limitemos esta quadra á oferta e recepção de presentes que não passam de simples acessórios materiais, mas empenhemo-nos em saber a verdade e façamos uma reflexão apurada antes de, sob a influência de quem quer que seja, optemos por caluniar e condenar o nosso vizinho ou semelhante.

Ser e fazer Soito

A propósito do artigo do Professor Aristides, onde com alguma mágoa, lança um alerta sobre o alheamento dos Soitenses acerca dos problemas da sua terra, devo dizer que, sem partidarismos, subscrevo uma grande parte do seu artigo, convicto de que a maioria dos habitantes, comungarão de igual sentimento.
Já no número dois deste jornal, em Setembro de 1998, bem como no número 21, de Abril de 2000, fiz referências e chamadas de atenção semelhantes, que foram estéreis, pois nenhum impacto produziram nos leitores.
A verdade é que o Soito está hoje transformado num arquipélago de ilhas de costas voltadas, cujos habitantes, divididos não sei porquê, perderam o sentido de comunidade e julgam bom aquilo que fazem, eles ou os seus amigos, e olham com desconfiança e desaprovação aquilo que tem fonte em sectores de cor partidária diferente.
Se tivermos em conta que um povo é um corpo e que todos os elementos que o compõem são essenciais à sua existência, desempenhando cada um o seu papel, facilmente depreenderemos que na falha de um, ou mais deles, todo o conjunto se ressentirá e caminhará para o colapso.
Constatamos em grande parte da população, um comodismo crescente e um alheamento das Instituições, como se não fossem suas, seja do Jornal, das Associações ou de outro qualquer movimento cívico, negando a participação efectiva, mas por outro lado criticando, sem conhecimento, tudo o que se fez ou faz.
Há já cerca de dois anos, numa Assembleia da A.C.D., chamei a atenção para o facto de que a maioria dos “cérebros”, a massa cinzenta do Soito, estar fora da nossa terra; dispersos um pouco por todo o País, temos centenas de Bacharéis, Licenciados, Mestres, Doutores, obviamente pessoas muito mais cultas do que eu e algumas altamente colocadas, que podiam contribuir para o progresso do Soito, no entanto, quando nos visitam, não lhe damos a mínima importância, por vezes nem os cumprimentamos e assim, desmotivados, vão perdendo o amor às raízes.
Sei que, frente a essas destacadas figuras, ninguém se deve julgar subserviente e assumir-se como inferior, mas sei que podemos ser mais humildes e pedir a sua cooperação em projectos que julguemos de interesse colectivo para o bem do Soito.
É verdade que alguns desses filhos do Soito, tentaram fazer o melhor pela sua terra e avançaram até com projectos, porém, devido à nossa falta de cooperação, principalmente daqueles que mais obrigação tinham de os apoiar, desiludidos, cederam à apatia generalizada e simplesmente esqueceram os projectos iniciados.
Está provado que um povo não pode estar à espera que o Governo, a Câmara ou a Junta, sob passos de magia, resolva os seus problemas e acuda aos seus anseios, sem ele mesmo dar o primeiro passo, mas também é verdade que dado esse primeiro passo rumo a um caminho que se pretende o melhor, devemos dar apoio e continuar até à meta sem desânimo, saltando se for preciso, o fosso que separa o poder instituído do povo real e que às vezes bem sentimos.
Ainda quanto à participação no Jornal, que devia ser mais SOITO, tenho contribuído desde os primeiros números com artigos de opinião, e outros, certo de que tenho, dentro dos meus limitados conhecimentos, dado a minha quota-parte, pena é que a “doença” de que sofrem muitos Soitenses, a indiferença, esteja tão enraizada na mente de tantos que “tudo sabem e nada fazem” e que a Junta se tenha também acomodado a este formato que deixa muito a desejar e precisa evoluir.
Todos sabemos que é preciso melhorar o Jornal, mas todos estamos à espera que outros o façam, eu continuarei a dar o meu limitado contributo na esperança que outros, muito mais capazes, se atrevam também a dar algum do seu tempo e saber e o partilhem com os seus concidadãos, para isso também a Junta deve cumprir a sua missão que é convidar potenciais participantes a pôr no Jornal as ideias que defendem e os ideais com que sonham, só assim teremos um “SOITO” digno à altura das exigências do povo.
Na minha qualidade de folha já amarelecida desta grande árvore que é o Soito, apelo a todos aqueles, que no vigor da idade e na plenitude do saber, (as folhas verdes) não deixem murchar mais a esperança deste povo e usem algumas das faculdades de que são portadores em benefício da sua terra.
2005

Os 100 anos da "Fonte da Villa" (Sabugal)

A primitiva Fonte pública da Vila do Sabugal, era de chafurdo com tecto em abóbada e todo o conjunto era construído em pedra de granito como consta em várias actas de sessões da Câmara, a partir do terceiro quartel do século XIX, nas quais esta se debruça sobre o mau estado em que se encontra e da necessidade de se proceder à uma reparação, que afinal acabou por ser de destruição.
A sua localização era sensivelmente no mesmo sítio onde hoje se encontra a actual Fonte, nela saciaram a sede, gentes não só da Vila mas também de todo o concelho assim como pessoas ou negociantes de passagem.
O Dr. Joaquim Manuel Correia, a ele se refere em Memórias sobre o Concelho do Sabugal, onde não esconde a sua mágoa pelo desaparecimento de tão valioso património e apelida de “Vereação inimiga das velharias “ a Câmara que construiu o actual chafariz à custa da morte da velha fonte.
Desde pelo menos 1893 que as obras de beneficiação da fonte se sucederam, sem no entanto evitarem que viesse a ser demolida e construída a actual que data de 1904.
Em 20 de Junho de 1893 é paga a Joaquim Augusto Moreira a primeira prestação da obra da fonte no valor de 9.965 reis, “arrematação que fez no passado dia 4”, e em 20 de Julho mais 19.935 pela 2ª. e 3ª. Prestação.
Em 26 de Dezembro de 1894, por uma barra de ferro para a fonte são pagos a António Gonçalves Sapinho, serralheiro, 2.830 reis
Em 14 de Fevereiro de 1895 foram pagos a André dos Santos Moura, 70.000 reis pelo estudo e planta para a compostura e aformoseamento do Largo da Fonte e construção de um Chafariz.
O auto de arrematação destas obras ocorreu em 1 de Abril de 1895, havendo a concurso duas propostas em carta fechada: uma de José Nunes, pedreiro, residente no Sabugal, no valor de três contos de reis, outra de António Baptista, de Pinhel, no valor de dois contos duzentos e quinze mil e setecentos reis, tendo a Câmara, após duas horas, deliberado por unanimidade adjudicar as obra a António Baptista que receberia por conta das obras, em 5 de Junho, a importância de 300.000 reis.
De salientar que em 1895 a Câmara teve uma receita de dez contos, seiscentos e vinte e dois mil e 586 reis, incluídos já três contos e quinhentos mil, provenientes do Fundo de Viação Municipal, e uma despesa de aproximadamente oito contos e quinhentos mil reis, o que significa um investimento na Fonte e Chafariz em cerca de 30% do orçamento anual
Em 15 de Abril de 1895 a Câmara deliberou autorizar o Vice-Presidente José dos Reis Chorão, então a exercer a Presidência, por impedimento de Manuel Nunes Garcia, a contratar com Manuel Nabais Caldeira e Bernardino Carriço a importância a pagar pela expropriação amigável que tem de fazer-se em parte dos prédios que eles possuem no Largo da Fonte e que são necessários para a execução das obras que vão fazer-se.”
O valor pago em 6 de Agosto do mesmo ano a Bernardo Carriço foi de 180.000 reis, conforme consta nas contas do dito ano.
A Manuel Nunes Caldeira e em reunião de 3 de Junho foi proposta a troca de uma porção de terreno publico junto das Eiras da Fonte da Villa por um lameiro que o mesmo possuía junto à Fonte ficando o Presidente encarregado de o contactar e negociar a troca.
No dia 22 é feito um pagamento de 130.000 reis a Francisco de Almeida devido pela expropriação amigável de parte de um lameiro no largo da Fonte e no mesmo dia são pagos 6.840 reis a André dos Santos, empregado de obra públicas, pela fiscalização das obras da fonte e chafariz.
Em 7 de Outubro são pagos 8.500 reis ao pedreiro José Nunes pelos encanamentos junto à obra do Largo da Fonte.
No mesmo ano, a 28 de Outubro foi decidido em sessão da Câmara, expropriar de forma amigável um terreno da viúva do Dr. António Vicente Bigotte e herdeiros para alargamento do Largo da Fonte, era Presidente da Câmara o Dr. Manuel Nunes Garcia. Esta operação teve o seu epílogo em 16 de Agosto de 1898 com o pagamento de 253.093 reis ao Dr. Arnaldo de Almeida Bigotte procurador de D. Maria Carlota da Silva e herdeiros.
No dia 4 de Setembro de 1895 são pagos 15.860 reis a José Nunes, pedreiro encarregado das obras, e em 7 do mesmo mês, mais 8.500.
Em10 de Dezembro 2.400 reis a André Lucas Gonçalves por 60 litros de cimento para as obras da fonte.
Em 16 de Maio de 1899, a José Fernandes da Cunha, empregado de obras públicas, pelo exame da obra da Fonte: 7.740 reis.
A 4 de Agosto de 1899 a Câmara pagou ao Engenheiro José Maria de Mello e Matos, a importância de 58.535 reis devidos pelo exame das obras, incluindo transporte de caminho de ferro e carro desde Lisboa, incluindo transporte de instrumentos, pás e carregadores.
No dia 12 pagou a Firmino Luís pela medição das águas que procedem da nascente, 1.680 reis.
Em 28 de Outubro de 1899 foi presente na sessão de Câmara o estudo do projecto das obras da fonte publica a cargo do Engenheiro José Maria de Mello e Matos a quem foram pagos 36.000 reis em 13 de Novembro do mesmo ano, importância devida pela organização em triplicado do estudo atrás referido.
Em 10 de Novembro de 1900, devido à falta de condições higiénicas da fonte, referenciadas pelo sub delegado de saúde, a Câmara resolve fazer um desvio de verbas no valor de 160.000 reis para proceder à sua reparação.
Pela análise da água da fonte desta vila, feita em Coimbra, a Câmara pagou ao Dr. Emídio Gomes Dias e Neves em 17 de Dezembro do mesmo ano a quantia de 30.200 reis.
Em 31 do mesmo mês; despesas feitas com jornais, jeiras e cimento gastos na obra da fonte; 129.800 reis.
Em 25 de Maio de 1901 é paga a Maria do nascimento, viúva de António Baptista, a quantia de 161.740 referentes ao resto do trabalho que ele havia efectuado na construção do Chafariz.
O projecto definitivo das obras da fonte é aprovado em 8 de Junho de 1901
Em 6 de Agosto do mesmo ano são pagos 18.000 reis a Maria Amália pela renda da casa que serviu para depósito de materiais para a obra da Fonte.
No dia 22 a Artur Augusto Sampaio, condutor de obras públicas, por serviços prestados na Fonte: 8.240 reis
A arrematação das obras do novo Chafariz a área circundante, foi decidida em sessão de 29 de Agosto de 1901 sendo marcado o dia 21 do mês seguinte pelas 12 horas, para a realização do auto, no entanto e como não apareceram interessados foi de novo marcado, desta vez para o dia 12 de Outubro, acabando por acontecer o mesmo e ficando decidido marcar o dia 8 de Fevereiro de 1902 com a base de licitação de 2.036.500 reis.
À semelhança dos autos anteriores, não compareceram interessados, tendo a Câmara em sessão do dia 15 marcado novo auto para o dia 5 de Abril, o que seria feito através de Editais.
Em 19 de Julho de 1902 e após sucessivos autos sem licitantes, a Câmara decide alterar o calcetamento que orçava em 1.151.194 reis por outro tipo de pavimento que custaria apenas 280.160 reis, tendo para isso pedido autorização superior, nessa altura o total da obra orçava os 2.241.000 reis.
Na sessão da Câmara de 22 de Novembro de 1902 esta decide arrematar apenas as obras da fonte pelo preço de 1.396.900 reis, mas como ninguém se mostrou interessado subiu esse valor em 5% na reunião de 3 de Janeiro de 1903.
Porque após mais de um ano de tentativas de arrematação não apareceram interessados, a Câmara, sob a presidência do Sr. Joaquim Osório da Cunha Mesquita, resolveu, em 7 de Março de 1903, fazer a obra por administração directa, requisitando para isso ao Director de Obras Publicas um empregado competente, acontece que face à inexistência de resposta por parte desta entidade, a Câmara mandou vir da Covilhã um condutor de Obras Publicas a quem pagará mil reis por dia e abonará em cada mês um transporte desta vila à Covilhã.
Em 26 de Novembro de 1903 são pagos 36 metros de cano de 76m/m no valor de 34.750 reis e mais 85.000 a Joaquim Augusto Correia de jornais empregues na fonte.
No ano de 1904 que é a data que consta inscrita como ano da construção foram gastos, logo no dia 12 de Março 8.300 reis, pagos a Firmino Luís por obras na fonte, a Joaquim A. Correia 3.920, a António Franco 1.440 de canos e a António José Povoas 2.000 por um dia nas obras.
Em 14 de Março, a Firmino Luís, importância de pinhos e condução dos mesmos para as obras da fonte desta vila 8.300, a Joaquim A. Correia por ferro e outros utensílios 3.920, a António Franco, funileiro, importância de concertos em canos de condução da água e bicas 1.440 e a A. J. Povoas, carpinteiro, importância de madeira; 2.000 reis.
Em 14 de Maio, a Francisco de Sousa, encarregado das obras, 306.000 reis por jornais, jeiras e aguços de picos, e a António José Povoas 1.700 reis por carrinhos de mão.
No dia 16 de Julho mais 25.000 reis por obras na fonte e mais 2.000 a António José Povoas por concertos em carrinhos de mão.
No dia seguinte foram pagos 70.000 reis a Francisco de Sousa, encarregado de obras, de jornais e jeiras assim como aguços de picos 70.000 reis e J. A. Correia 20.620 de 2 barricas de cimento e uma pedra de mármore para a fonte.
No dia 7 de Julho, a Francisco de Sousa, importância de 2.000 metros de calçada e 433 metros de guia de pedra de cantaria empregues na obra da fonte; 554.800 reis e no dia 18 ao mesmo 400 mil reis, por calçadas no Largo da Fonte e no dia seguinte e ao mesmo, mais 25.000.
No mesmo dia são pagos a J.A.Correia: 88.200 reis de jornais e jeiras e a António Franco 1.400.
No dia 27, de cal hidráulica e outros 46.305 reis a Ismael Mota e a António Saraiva, pedreiro, por 14 dias a dirigir os trabalhos; 16.970.
Em 3 de Agosto, a António José Póvoas, importância de concertos em carrinhos de mão, 2.000 reis.
No dia 1 de Outubro de 1904 é autorizado o pagamento de 79.980 reis a Francisco de Sousa pela calçada grossa que fez da saída do Largo da Fonte em direcção à Devesa.
Em 5 de Novembro de 1904 foram pagos ao mesmo Francisco de Sousa 180.000 reis “pela ultimação dos trabalhos no Largo da Fonte”
Seria este pagamento, a ultima despesa feita com a fonte?
A Fonte ali está, como um monumento que já fez cem anos e onde se gastaram milhões de reis para dar qualidade de água ao povo e embora já não tenha a utilidade de outros tempos, nem as gentes de hoje bebam a água que dela jorra, ela lá continua alheia às pessoas a ao tempo e continuaria a cumprir a sua missão se os homens fossem mais responsáveis e poluíssem menos o espaço que os rodeia.
As histórias desta Fonte e Chafariz, bem como da antiga que ali existiu até finais do século XIX dariam tema suficiente para um pequeno livro, pode ser que um dia alguém ouse abalançar-se a tal tarefa, eu por mim apenas assinalo a data.
Dez 2004

O Edifício das Escolas do Sabugal

A cadeira de professor primário (mestre das primeiras letras) foi criada no Sabugal em princípios do segundo quartel do século XIX, mas a escola funcionava em casas arrendadas pela Câmara, em 1913 funcionava no antigo Quartel Militar que havia sido desactivado e sofrera obras de adaptação.
O projecto para a construção do actual edifício das escolas primárias data de 1911.
Em 29 de Novembro desse ano, a Câmara decide pedir ao Governador Civil, autorização para vender prédios imóveis rústicos que “produzem um insignificante rendimento e que têm estado sujeitos a irreparável usurpação. O produto da venda será destinado à construção de um edifício escolar nesta vila para o que também concorre a Junta da Paróquia com a importância que tem na Caixa Geral de Depósitos”.
As obras iniciaram-se em 1912 já que data de 9 de Outubro desse ano uma nota do vereador Mota informando a Câmara de que as obras não estão a ser feitas de harmonia com a planta e projecto o que levou a Câmara a convidar um empregado competente para vir examinar a obra, feito isto, apenas se notava um pequeno desvio num canto dos alicerces que em nada alterava o projecto pelo que a Câmara decide-se pela continuação das obras.
Para fazer face às despesas, a Câmara, deliberou em 21 de Dezembro de 1912, vender algumas das propriedades que possuía dispersas pelo concelho, marcando o auto de arrematação para o dia 25 de Janeiro seguinte.
Das propriedades vendidas salientamos apenas as maiores embora outras de menor valor tivessem sido alienadas; foi vendido o Chão do Enchido, nos Foios a Teresa Martins Pires por 1.325.000 reis e a Malhada dos Barreiros, também nos Foios por 405.040 reis a Manuel Joaquim Afonso.
Em 7 de Junho de 1913, a Câmara, após ter posto em praça os bens do Soito e da Lageosa sem que aparecessem licitantes deliberou marcar novo auto para o dia 22 de Junho às 12 horas.
Os do Soito foram vendidos nesse dia e eram os seguintes; uma propriedade no Carvalhal, a João José da Fonseca Garcia por 500.020 reis, a Sorte das Fontelas a José Carrilho, Manuel Manso Rito e José Augusto Manso por 400.020 reis, a Malhada de São Braz, a José Rito e Narciso Carrilho por 300.020 reis e outra nas Batecovinhas a José Manso Rito por 180.020 reis.
Havia já sido vendida antes, outra terra chamada Terra do Ribeiro, na Bendada, a José Pires por 221.000 reis em 7 de Agosto de 1912.
O Ministério do Interior, por lei de 17 Janeiro de 1913, vota uma verba de 200.000$00 para a construção de edifícios para as escolas primárias nos lugares onde qualquer corporação ou entidade se responsabilize em numerário, materiais ou trabalho por metade do dispêndio orçado, a Câmara propôs juntamente com a Junta da Paróquia custear metade da importância a gastar no edifício da escola solicitando ao governo a outra metade. (acta de Câmara realizada em 15 de Março de 1913)
A obra de pedreiro foi arrematada em Abril desse ano pelo valor de 2.322.900 reis.
Em 17 de Maio, segundo a Junta da Paróquia, já haviam sido gastos na escola 1.982.804 reis, sendo 1.854.970 reis ao Empreiteiro de pedreiro e ao condutor de obras público José Fernandes da Cunha e 127.834 pela planta, orçamento e fiscalização, faltando 477.930 para a conclusão das obras arrematadas tendo a Câmara deliberado colocar esta importância à disposição da referida Junta.
O auto de arrematação do telhado estava marcado para 27 de Setembro com a base de licitação de 974$00 mas devido a não ter havido interessados foi definido o dia 8 de Novembro de 1913 com um aumento de 5% em relação ao valor atrás citado, foi entregue a José Augusto Louro por 1.022$60, sendo fiador seu irmão Justino Augusto Louro e esposa Maria da Cruz Bigotte, estava pronto em 8 de Agosto de 1914, conforme informação prestada pelo arrematante.
Em 17 de Dezembro de 1917, a Comissão executiva da Câmara tinha em depósito e destinado às escolas um saldo de 1.037$22 proveniente de bens vendidos e 792$49 de dinheiros do Estado para o mesmo fim.
O Governo, através de circular, questiona a Câmara sobre os trabalhos das escolas (sessão de 14 de Junho de 1915) tendo ela solicitado ao Director das Obras Publicas uma avaliação dos trabalhos e a previsão dos custos para o seu acabamento.
Em 2 de Agosto do mesmo ano, é marcado o dia 30 para a arrematação das obras de carpinteiro, trolha e pintura cuja base de licitação se cifra em 4.087$00, na mesma acta dá-se conta do levantamento de 2.000$00 concedidos pelo Governo e destinados a esta obra.
Como não apareceram licitantes, a Câmara decide em 29 de Maio de 1916, pôr as obras de novo em arrematação com um valor 25% superior e em 14 de Agosto marca o dia 19 pelas 12 horas para a realização do auto com o valor base de 5.125$00 tendo sido entregues a Manuel Lourenço e Filhos por 5.025$00 (acta de 21 do mesmo mês).
Em 28 de Agosto de 1919 são levantados os 800$00 que o Estado depositara da Caixa Geral de Depósitos e destinados à mesma obra.
Devido ao encarecimento dos materiais e da mão-de-obra em consequência da guerra, o empreiteiro, em 11 de Agosto de 1920, informou a Câmara que só podia fazer as obras já adjudicadas mediante um aumento de 3.300$00 no que esta acordou, ressalvando que o pagamento só poderia ser efectuado após a Câmara receber os 5.000$00 que o Estado lhe atribuíra através do Decreto 6.118 de 20 de Setembro de 1919.
As escolas ainda se encontravam em construção em 21 de Dezembro de 1925, pois nesta data a Câmara delibera adquirir os materiais necessários e encarregara José Augusto Louro da mão-de-obra cuja despesa seria paga mediante apresentação de “folhas de jornais”.
O serviço de colocação dos vidros nas janelas e nas portas, bem como o primário, betume e tintas, foram adjudicados em 11 de Dezembro de 1926 a José Milagre por 3.000$00.
Em 20 de Agosto de 1927, a Câmara deliberou rebocar e caiar mais duas salas para instalar duas escolas que se encontravam a funcionar fora do edifício e deliberou mandar fazer orçamento para a conclusão das obras, tendo essas obras em falta, nas escadas e no andar superior, sido adjudicadas a Pedro Borges, estucador, em 31 de Março de 1928 por 1.500$00, sendo a Câmara a fornecer os materiais, mas em vez de estuque foi decidido colocar forro de madeira de pinho ao preço de 0$95 cada metro quadrado.
Não encontramos dados que nos permitam situar a data da inauguração deste edifício, sabemos sim que as obras se desenvolveram por mais de 15 anos, talvez devido às consequências nefastas da 1ª guerra mundial que absorveu uma grande parte do esforço colectivo.
Reparado há poucos anos, aí está o monumental edifício de que o Sabugal e o concelho se podem orgulhar, pois ali fizeram exame milhares de alunos vindos de todas as freguesias.
É sem duvida um dos edifícios mais emblemáticos da cidade e a imponência própria da época em quem foi construído, conferem-lhe ainda hoje um estatuto superior que facilmente pode ser comprovado.

Fev. 2005

Ensino Primário no concelho do Sabugal

As escolas primárias oficiais foram criadas por Decreto de 6 de Novembro de 1772, no tempo em que o Marquês do Pombal era Secretário de Estado de D. José I, embora para o sexo feminino só viesse a acontecer em 1815.
No actual espaço territorial que hoje compreende o concelho do Sabugal, onde estão incluídas mais quatro vilas que já foram sede de concelho, havia em 1836 apenas 5 cadeiras de “Mestres das primeiras letras”: Sabugal, Touro, Soito, Alfaiates e Vilar Maior.
Em finais de 1836 e no então concelho, já com o termo de Vila do Touro incluído, havia apenas três Mestres (professores) que eram os do Sabugal, Soito e Vila do Touro, na mesma altura o concelho de Vilar Maior, que absorvera o de Alfaiates em resultado do mesmo Decreto que extinguira o de Vila do Touro, tinha dois Professores o que ainda se verificava em 6 de Janeiro de 1839 e seriam o da própria Vila e o de Alfaiates.
Só em 5 de Janeiro de 1840, a Câmara de Vilar Maior pede a criação das cadeiras das primeiras letras para Nave de Haver e Aldeia da Ponte, mas em 1842, este concelho já tinha cinco professores que seriam Vilar Maior, Alfaiates, Aldeia da Ponte, Nave de Haver e Malhada Sorda.
O “Mestre de Ler” de Sortelha só aparece em 1837 (João Martins Carvalho) e quando este concelho foi incluído no do Sabugal em 24 de Outubro de 1855, continuava a ter apenas um professor conforme se pode ver nas contas de 6 de Novembro desse ano: pagamento de 10.000 reis ao professor, referentes aos trimestres vencidos em Março e Junho.
Ainda, no período 1836/1855 e no concelho do Sabugal de então, foram criadas mais duas cadeiras, a da Lageosa (1851) e da Nave em 1854 pois nas contas de 1854 aparece um valor de 100.000 reis dispendido com os cinco professores do concelho: do Sabugal; Padre António Carlos Bigotte, do Soito: Manuel Fernandes Ruço, da Lageosa: Padre António R. Gouveia, de Touro: Luís António da Fonseca e da Nave: Luís Cândido de Araújo Guimarães.
Assim, em 1855, no actual espaço do nosso concelho, havia apenas nove escolas, já que Malhada Sorda e Nave de Haver seriam mais tarde anexadas ao de Almeida.
Embora em 1844 houvessem sido decretadas sanções para os pais que não mandassem os filhos à escola, a verdade é que o mesmo Estado que fez este Decreto, não criou condições para que tal fosse possível porque a maioria das povoações continuavam sem escola e a distância a percorrer entre elas, em termos de tempo, era dezenas de vezes mais demorada do que é hoje, o que impossibilitava a deslocação de eventuais alunos.
Em 1866 já estavam instaladas no concelho 23 escolas, porém seis delas estavam fora do seu actual espaço; Miuzela, Castelo Mendo, Malhada Sorda, Nave de Haver, Freixo e Parada o que reduzia o número para 17, no entanto no ano seguinte já eram 19: Sabugal, Touro, Soito, Sortelha, Alfaiates, Vilar Maior, Aldeia da Ponte, Lageosa, Nave, Aldeia Velha, Bendada, Casteleiro, Pousafoles, Quadrazais, Santo Estêvão, Seixo do Côa, Vale de Espinho, Rendo e Aldeia do Bispo.
A escola do sexo feminino para o Sabugal só foi pedida em 1864 e criada oficialmente em 1867 tendo como primeira “Mestre das meninas” D. Brites Afonso Borrega.
Em Aldeia da Ponte e Sortelha foram criadas em 1880, Alfaiates e Vilar Maior 1881,Vila do Touro 1882, Pousafoles 1884, Soito 1888, Vale de Espinho 1889…
A título de curiosidade é interessante salientar que à data (1855) um professor ganhava 20.000 reis por ano, mais prémio de 50 reis por aluno, casa, mobília e outras prerrogativas que a lei lhe confere, enquanto que o cirurgião (médico) ganhava 10 vezes mais: 200.000 reis sem contar com outras ajudas a que tinha direito.
Em 1889 eram 1.236 os alunos que frequentavam as 24 escolas masculinas existentes enquanto que nas oito escolas do sexo feminino havia apenas 325 meninas o que somava um total de 1.561 alunos.
Na década1960/1970 todas as povoações tinham escola, incluindo as anexas, os alunos ultrapassavam largamente os três milhares, hoje, das mais de meia centena de escolas que então existiam no concelho restam apenas metade (27).
Na época escolar 1999/2000 matricularam-se nas escolas do concelho 514 alunos e na de 2004/2005 apenas 375 em 27 estabelecimentos de ensino entre os quais se contam 10 com apenas cinco alunos ou menos e 8 com entre 6 e 10 alunos.
Há ainda 10 escolas sem qualquer aluno no 1º.ano e quatro com apenas 1 aluno o que deixa antever um eventual encerramento a muito breve prazo de mais cerca de 15 escolas.
Perante estes dados preocupantes acerca da frequência escolar devido à falta de crianças, podemos concluir que se está a fechar um círculo, que, num vastíssimo espaço histórico, durou menos de século e meio, dado que muitas das escolas já encerradas ou que poderão via a encerrar, foram criadas na segunda metade do século XIX.
Sem pretender entrar no campo das hipóteses nem das “ciências de futurologia”, posso perfeitamente acreditar que daqui a poucos anos teremos, à semelhança do que já acontece em alguns concelhos, uma escola central para onde se deslocarão todos os alunos das redondezas, veremos!
Não havendo crianças não são precisos professores nem escolas e esse pressuposto aterrador pode bem ser real e estar mais próximo do que pensamos.
Estes dados são apresentados sem qualquer sentimento de pessimismo, são factos que podem ser confirmados e que nos devem levar a pensar no futuro.
Março de 2005

160 anos da freguesia (civil) dos Foios

Embora a povoação dos Foios, desde há muitos anos atrás, constituísse uma freguesia eclesiástica, foi, por virtude do Decreto de 18 de Julho de 1835 e face à criação das Juntas de Paróquia, anexada a vale de Espinho a partir de 14 de Setembro de 1836 “devido a carecer de número suficiente de indivíduos aptos para aver na mesma freguesia Junta e Comissão, a Câmara acordou em que a freguesia de Foios ficasse anexa de Vale de Espinho para semelhante fim e para ali votarem e serem votados.”
A dependência durou até 1845, pois, descontentes com o modo como eram tratados, os “Fogeiros” decidiram tornar-se independentes e apresentaram a sua pretensão ao Concelho do Distrito em 8 de Julho desse ano o qual através do Governo Civil envia em 24 do mesmo mês um ofício à Câmara do Sabugal onde transcreve a dita pretensão nos seguintes termos: “Foi presente ao Concelho do Distrito huma representação de moradores do lugar dos Foios, concelho do Sabugal pedindo que assim como o referido lugar constitui uma Freguesia Eclesiástica e independente de Val de Espinho, lhe seja também concedido terem as autoridades Administrativas e Parochiais em separado da referida freguesia de Val de Espinho, a cujo respeito acordou o concelho, que a mencionada representação seja remetida à Câmara respectiva, não só para que informe acerca do seu objecto a respeito da conveniência ou inconveniência para o serviço Público na referida pretenção, mas também a respeito do número de fregueses que na Paróquia dos representantes se poderão recensear, como abeis para servirem e desempenharem os Empregos que se pretendem criar.”
Este ofício foi lido em sessão de Câmara realizada no dia 18 de Outubro a qual acordou em pedir ao Reverendo Pároco dos Foios que mande uma nota onde declare quantos fogos tem a freguesia, assim como os cidadãos que na dita Freguesia souberem ler, escrever e contar a estarem presentes na sessão do dia 28 de Outubro.
Nesse dia compareceram quinze desses cidadãos, que assinaram a acta.
Em 9 de Novembro, diz a Câmara: está esta Câmara convencida que muito convém ao serviço público, interesses da Fazenda Nacional do concelho, que a dita Freguesia dos Foios se separe da de Val de Espinho até mesmo pela opressão e vexames de que os representantes se queixam, tendo além disso setenta e três fogos, maior número este do que tem a Freguesia da Ruvina, que sempre tem sido Freguesia Civil…
Em 8 de Dezembro a Câmara designa o dia vinte e um desse mês para a realização de eleições da Junta da Paróquia e Juiz eleito
Conforme acta de 1 de Novembro de 1846 a Câmara nomeia para Juízes; Thomáz Martins, José Esteves Júnior e José Nunes, para membros da Paróquia: José Nunes e José Neves e para Guardas rurais: Manuel Afonso Neto e João Afonso Baltazar.
Nas primeiras eleições foram eleitos: para Juízes; Manuel Afonso, Theotónio de Lª e João Pinheiro. Para a Junta da Paróquia; Clemente Martins e Francisco Lopes e para Guardas Rurais: Manuel Mendes da Clara e Domingos Fernandes Nabais.
Com apenas 10 fogos em meados do século XVIII, os Foios cresceram e têm mantido a sua população a níveis mais estáveis do que alguns povos que eram muito mais populosos.
De referir que segundo o Censo de 2001, esta freguesia, com 410 habitantes residentes, ocupa a 11ª posição no total das 40 freguesias do concelho, logo atrás de Alfaiates que aparece com 419 e à frente de Aldeia do Bispo com 395.
Com 954 residentes presentes em 1940, os Foios perderam 57% da população, taxa inferior à média do concelho que se cifra em cerca de 65%.

Precisa-se....

“Precisa-se de matéria-prima para construir um país”?

Qualquer texto, ideia ou opinião, ainda que aceitáveis, estão sempre sujeitas ao contraditório e muito embora felicite Ácido dos Prazeres pelo artigo que fez transcrever no penúltimo número deste Jornal, não posso deixar de fazer alguns reparos.
É, conforme o autor fecha o artigo, de meditar, por isso mesmo aqui estou como leigo a reflectir em pontos que entendo desajustados à verdade e contribuir para que haja uma discussão mais alargada e eventualmente conclusiva.
Realmente a mesma “matéria-prima” que no nosso país tem todos os “defeitos e vícios” apontados, contribui, em muitos países onde se instalou, para a criação de riqueza e desenvolvimento dos mesmos o que não pode ser negado por quem quer que seja.
Então porque razão no país de origem não acontece o mesmo?
A verdade é que desde há já muitos anos, os nossos governantes incapazes de tomarem medidas capazes de solucionar os problemas de uma sociedade que lentamente se afunda, criaram uma nova classe de portugueses aos quais paga para estarem quietos, sobrecarregando nos restantes um maior esforço para alcançar a média de rentabilidade exigível.
Também é verdade, como dizia Maquiavel, que “aquele que tenta impor uma nova ordem tem como inimigos todos aqueles a quem a antiga ordem aproveitava,” inibe, ou pelo menos condiciona os governantes, que se apegam ao lugar defendendo-o, e não ao cargo exercendo-o, o que leva a que muitas das desgraças com que o país se enfrenta resultem da ineficácia das leis, apesar de o país sustentar, no luxo, milhares de cidadãos com poderes legislativos ou a eles ligados, despreocupados e alheios daqueles que os elegeram ou sustentam.
Quanto à frase “… essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui…” não corresponde à realidade; o que se constata desde há muito é que a corrupção, tal como o exemplo, vêm sempre de cima, qual efeito de pirâmide que vai alastrando a base até parâmetros insustentáveis.
Já há cerca de 2.500 anos, Sólon queria legislar no sentido de que “todos os cidadãos prestassem contas da maneira pela qual ganhavam a vida”, tantos séculos passados Portugal, e não só Portugal, continua a ser um paraíso para os tais “espertos” que o autor refere, mas disso somos todos um pouco culpados por omissão, já que em presença ou conhecimento do erro, somos como que dominados por um misto de desinteresse e cobardia colectiva; não agimos nem reagimos apenas existimos.
Se todos nós, portugueses, somos um pouco culpados pela situação a que chegámos, maior grau de culpa tem quem nos dirige ou tem dirigido, pela incompetência e pela passividade, e isto não se aplica só aos últimos ou actuais governantes, mas a todos os que tiveram cargos com poder de decisão desde há largas décadas, por isso estamos hoje a pagar pela falta de planeamentos anteriores: temos licenciados a mais em muitas áreas e necessidades urgentes em outras bem vitais ao bem-estar da população e essa responsabilidade não a podemos assacar ao povo a não ser pelas escolhas erradas que tem feito ao longo da sua vida democrática.
O país tem “matéria-prima” capaz de produzir, precisa é de dirigentes e empresários competentes para fazer uma boa gestão a fim de aproveitar todo o potencial de que dispõe.
Dez.2005

E se um dia a neve voltar em força?

Não sou engenheiro ou técnico de estruturas, nem pretendo ser alarmista e enveredar pelo campo das hipóteses, mas também não posso ser um cidadão passivo e negar a possibilidade de algum dia termos pela frente reais acidentes de proporções inimagináveis, provocados pela neve, face à ligeireza e irresponsabilidade com que hoje se colocam algumas coberturas de pavilhões, armazéns, etc.
Ainda não há muitos anos, na cidade da Guarda e sob o peso da neve, ruíram algumas estruturas, que tanto quanto sei apenas causaram prejuízos materiais e talvez tenham surgido apenas como uma advertência: afinal a Guarda é zona de neve!
Estes acontecimentos, em vez de servirem de aviso e levarem os técnicos a calcular essas estruturas de acordo com os parâmetros que tal eventualidade exige, foram simplesmente esquecidos e, continuamos mais que nunca, a ver erguidos enormes pavilhões, industriais ou comerciais, nos quais, através de painéis frontais ou laterais, se bloqueia o natural escorrimento da água e da neve, contribuindo para a acumular e por via disso exercer uma pressão que poderá ser insustentável por alguns desses suportes estruturais provocando assim a derrocada.
A ausência de desnivelamento das coberturas, pode também contribuir para reter sobre elas toda a neve que porventura venha a cair e é mais uma situação que não parece estar a ser devidamente acautelada na elaboração e aprovação dos projectos.
Se olharmos à nossa volta, facilmente deparamos, aqui ou além, com dezenas de pavilhões, que não resistirão a um nevão de 30 ou 40 cm de espessura.
É verdade que desde há quatro ou cinco décadas não cai no Distrito um nevão de grandes proporções e de que muitos ainda se lembram, mas nada nos garante que num qualquer Inverno isso não possa voltar a suceder, precisamos é de estar preparados para tal eventualidade e isso acho que não estamos a conseguir, ou estou enganado?
Apelo daqui aos técnicos dos projectos para que se debrucem sobre este fenómeno e ajam em conformidade e de consciência tranquila e também aos responsáveis pela sua aprovação oficial para que estudem, de forma correcta e com vista ao futuro, todos os pedidos de implantação destes edifícios tendo em conta o factor neve.
Ainda que, eventualmente, esteja a ser cumprida a legislação do país, é bom não esquecer que a Guarda e uma boa parte do Nordeste são bem diferentes do todo o restante país, porque sujeitos a clima diferente.

Brás Garcia de Mascarenhas

O Poeta

Decorria o último quartel do século XVI, quando Camões, então ignorado e abandonado, fechava os olhos pela última vez, e logo, quinze anos passados, vinha a nascer o poeta a quem hoje dedicamos este espaço.
Nasceu a 3 de Fevereiro de 1596 e após uma vida cheia, quer na vertente militar, quer na poética, morria na sua terra natal, (Avô) a 8 de Agosto de 1656.
Referi aqui o nome de Camões propositadamente, porque há nas obras de ambos algo de semelhante, de heróico e patriótico: Se Camões nos Lusíadas relata a epopeia dos descobrimentos de uma forma, diga-se orgulhosa, também Brás Garcia no Viriato Trágico relata o heroísmo do povo lusitano a começar por Viriato até D. João IV seu contemporâneo e amigo.
Se os trabalhos de Camões e de Brás Garcia de Mascarenhas têm algo de semelhante entre si, já o tratamento, ou a homenagem dada á memória de ambos foi bem diferente; Camões foi elevado aos píncaros da glória e considerado um símbolo nacional, com as suas obras a serem editadas até á exaustão, pelo contrário o nome de Brás Garcia foi remetido quase a um silêncio acusador e as suas obras arquivadas numa qualquer prateleira poeirenta.
Aceito os Lusíadas como a maior obra da nossa literatura e Camões seu autor como uma figura grande das nossas letras, mas dói-me ver o desprezo que é dado a esse grande vulto que foi Brás Garcia de Mascarenhas, por parte das autoridades académicas e administrativas deste País, enquanto sobrevalorizam, promovem, (ou têm promovido) muitos poetas de craveira bem menor através da inclusão de alguns dos seus trabalhos nos livros de ensino.
Sabemos que os Lusíadas são compostos por 1.102 estâncias divididas irregularmente por X cantos, mas quantos de nós sabemos que o Viriato Trágico se estende por XX cantos e atinge o número de 2.307 oitavas?
São muitas as razões que me levam a escrever sobre Brás Garcia de Mascarenhas mas aponto apenas algumas. Primeira; porque nasceu ali na Vila de Avô onde a Beira Alta toca a Beira Litoral, nas margens calmas e doces do Alva e onde como ele escreveu: “os montes a fio se perdem nos horizontes” num “labirinto de flores e de rios” a escassos quatro Quilómetros, onde quase três séculos e meio depois nascia este que agora vos escreve. Segunda; porque foi Governador da Vila de Alfaiates, a dois passos do Soito, terra que certamente ele alguma vez pisou, e que é hoje a minha outra terra, onde vivo há quase 47 anos e que era então sua vizinha como hoje é minha a que então foi sua. Terceira; porque foi certamente nas masmorras do Sabugal, onde esteve injustamente detido, que este seu mais ilustre prisioneiro começou a escrever, e porque o considero demasiado esquecido atendendo ao valor que como português soube demonstrar.
Falar de Brás Garcia de Mascarenhas não é fácil, nem tão pouco é suficiente um pequeno artigo num periódico de província, no entanto atrevo-me daqui, a chamar a atenção dos leitores para a vertente poética deste português no sentido de os sensibilizar para uma leitura atenta da sua obra.
Acerca do poeta, a 8 de Agosto de 1958, trezentos e dois anos após a sua morte e aquando da inauguração do seu busto na terra que o viu nascer, dizia o médico e poeta Dr. Vasco de Campos, que eu tive o gosto de conhecer e receber em minha casa no Soito; “Não é só esta terra de honrados pergaminhos que se sente na obrigação de lhe agradecer favores. Também a Pátria lhe deve altos e assinalados serviços.” e mais adiante “ Se a glória lhe acenou, em raros e fugidios momentos, logo a má sorte surgiu, a tolher-lhe os passos e a nublar-lhe o destino”. Este ilustre beirão há pouco desaparecido, num discurso proferido em 21 de Maio de 1972, titulou o Viriato Trágico como a “Bíblia do Lusitanismo” e merece bem este elogio o poeta que tão bem cantou a Beira, a sua “Beira em tudo soberana” de “pátrios montes, ásperos gigantes” de “vales deleitosos e refrigério de cálidos estios”
Transcrevo a seguir alguns versos deste “poeta-soldado” que entendo bastante significativos da sua arte e dos seus sentimentos:
Ao iniciar o canto I e referindo-se a Viriato escreve; Canto um pastor, amores e armas canto/ Canto o raio do monte e da campanha,/ Terror de Itália, do Mundo espanto,/ Glória de Portugal, honra de Hispanha. No inicio do canto XIII e a propósito da Restauração canta: Está de todo já ressuscitada,/ Se ontem quase defunta, monarquia;/ Por tantos lustres e heróis fabricada/ Por Sebastião desfeita em um só dia....
Enquanto Governador de Alfaiates e co garante da Independência Nacional escreveu no canto XV estancia 101; Visto tens, invencível Viriato, / Como estes reinos teus se levantaram./ Sua conservação te não relato, / Por ser um dos que a peitos a tomaram...
Acerca dos seus inimigos, queixava-se na 67 oitava do mesmo canto XV ; Cuidava um tempo, que nas mãos estava/ Dos homens evitarem seus perigos;/ Mas vim a conhecer que me enganava,/ E que tem, quem mais luz, mais inimigos.
Cansado de enganos e “repugnando-lhe o convívio com delatores” conforme as palavras do seu distinto conterrâneo Dr. Vasco de Campos, volta a Avô onde manifesta incontido a satisfação pelo regresso ao lar na estancia 104; Retiro-me a estes vales, a estas fontes,/ A estes frescos jardins e pátrios rios,/ Quando são cheios caço pelos montes/ E neles pesco, quando vão vazios.
Escreve ainda sobre os seus males; Como esta areia, como as estrelas,/ Como as ervas e folhas se não contam/ Assim meus males tantos, como elas/ São, pois não sei o numero a que montam!
O amor que devotou á Pátria está bem patente nesta sua afirmação; /“Quem a troco de vê-la restaurada, por ela morre, vive eternamente:”/
Para além de poeta, patriota e cidadão da mais alta sensibilidade, Brás Garcia de Mascarenhas, não era um português vulgar, vulgar é aquele que o quer manter ignorado ou que contribui para que tal aconteça.
Gostaria de um dia poder voltar ao assunto, veremos! Entretanto deixo o desafio aos estudiosos...
Termino com um agradecimento especial aos autores do livro Sonho Profético; Drs. Manuel Lopes Botelho e Mário Simões Dias que desenterraram um pouco o véu que cobria o poeta.
2010

O nosso concelho!!!

Mais a titulo informativo que pedagógico, e porque muitos dos nossos leitores não terão certamente a oportunidade de aceder de outro modo a todo o tipo de literatura mais completa e elucidativa, propomo-nos enumerar uma serie de dados relativos ao nosso concelho e deixar á sua consideração a analise comparativa com outros concelhos do País, que referimos por interessantes dada a relatividade ou discrepância de alguns números. Cremos não ser inútil, saber qual a nossa situação no contexto Regional e Nacional, daí esta recolha, feita a partir de várias publicações.
Sabemos que o Sabugal pertenceu ao distrito de Castelo Branco até ao ano de 1855, data em que passou a fazer parte do Distrito da Guarda, e que em 1842 tinha apenas 15 freguesias, porém após a extinção de alguns concelhos que absorveu em parte, como Vila do Touro, Sortelha, Vilar Maior, Alfaiates e parte de Castelo Mendo o numero de freguesias aumentou para 58, o que não durou muito, pois devido á confusão e às alterações administrativas verificadas no ultimo quartel do século XIX, foram-lhe novamente retiradas 18, entre as quais Miuzela, Porto de Ovelha, Malhada Sorda e Nave de Haver, ficando composto por 40 que são ainda as actuais.
A população que em 1950 se cifrava em cerca de 33.000 Habitantes, ronda hoje a metade desse valor, situação causada não só pela emigração, mas também pelo facto de estar situado numa região do interior onde a oferta de emprego escasseia.
Desses pouco mais de 16.000 habitantes, metade está concentrado em apenas 9 freguesias, Sabugal, Soito, Bendada, Quadrazais, Vale de Espinho, Sortelha, Casteleiro, Aldeia Velha e Aldeia de Santo António, tantos como nas restantes 31 freguesias.
No total populacional ocupa o 4º lugar no Distrito, depois da Guarda, Seia e Gouveia, mas com uma densidade populacional a rondar os 20 Habitantes Km2, só deixa atrás Almeida com 19 e Figueira com 16, já que Seia com pouco mais de 60 e Gouveia com um pouco menos, ocupam os primeiros lugares, compare-se por exemplo com a Amadora, concelho que alberga 8.000 habitantes por Km2, que é o mesmo que dizer: num espaço igual aquele onde circula um Sabugalense, na Amadora terão que haver-se 400 cidadãos.
É o concelho que ocupa mais superfície a nível Distrital, 827 Km2, e o 14º em termos nacionais, depois de Ponte de Sor com 839, Santiago do Cacém 1059, Serpa 1104, Coruche 1113, Bragança 1136 Beja 1141, Montemor o Novo 1232, Mértola 1279, Évora 1308, Idanha a Nova 1413, Castelo Branco 1440, Alcácer do Sal 1480 e Odemira com 1721 Km2.
Quanto ao número de freguesias, 40, ocupa o 2º lugar em termos de Distrito depois da Guarda com 56, para partilhar o 10º lugar com Amarante, entre mais de trezentas que compõem Portugal, só ultrapassado por Vila Nova de Famalicão e Bragança com 49, Chaves 50, Ponte de Lima e Arcos de Valdevez 51, Lisboa 53, Guarda 56, Vila Verde 58, Braga 62, Guimarães 73, e Barcelos 91.
É de salientar, apenas por curiosidade, que os concelhos de São João da Madeira, Barrancos, São Brás de Alportel, Alpiarça e Entroncamento são formados por uma só freguesia cada.
Também é neste concelho que se regista uma das maiores diferenças entre o número de eleitores e o de residentes, este ultrapassado por aquele em cerca de 1000. Este fenómeno verifica-se sobretudo nos concelhos de maior emigração, principalmente a Norte e apenas ultrapassados por Lisboa e Porto com números a rondar os 30.000.
Ainda o aspecto físico urbano é de entristecer saber que há mais de 40% de casas fechadas, ou porque os seus proprietários estão ausentes algures no estrangeiro, ou porque simplesmente morreram e não há quem os substitua.
Se há alguns números de que nos podemos orgulhar como habitantes deste extenso concelho, há também alguns que nos devem fazer meditar quanto ao futuro, estamos a envelhecer, os nossos filhos arribam a outras terras em busca daquilo que aqui lhe é negado, e os seus filhos, nossos netos, vão perdendo a ligação às raízes.
Sem querer ser pessimista, não me surpreenderia se ouvisse cantar o Requiem sobre algumas das nossas aldeias, mas certamente ficaria triste, porque incapaz de o evitar.

OS INCENDIOS!!!

Os dois maiores valores, com que se pode medir ou avaliar o comportamento de uma sociedade, são o respeito e o medo. Se esses princípios forem ignorados ou banidos da convivência entre as pessoas ou povos, podemos estar no limiar de uma situação caótica em que apenas vale a lei da força, animalesca...ou bélica.
Sem pretender divagar sobre outros assuntos igualmente preocupantes e que ocupariam um número infindável de páginas, atrevo-me hoje a escrever o que penso acerca da vaga de incêndios, diga-se já esperada, que assola e devasta o País um pouco por todo o lado, sem que se vislumbre a mais pequena réstia de esperança numa solução definitiva.
Sei que não há um remédio milagroso que resolva a situação de um dia para o outro, como sei quanto ineficazes têm sido os meios utilizados para por fim a tal flagelo já que quanto mais dinheiro se injecta no combate ao fogo, mais se alimenta o negócio que dele advém, que parece estar constituído ou a tornar-se institucional.
Muitos dos incêndios, são provocados e acelerados pela falta de limpeza das matas, limpeza que os governantes de hoje só não promovem, porque isso lhe faz lembrar o passado, talvez porque no tempo de Salazar não havia fogos, as matas eram limpas periodicamente, ainda que apenas á força braçal, e hoje, apenas por pura demagogia nada do que fez Salazar pode ser copiado, ainda que tenha sido efectivamente positivo.
Com os meios mecânicos, hoje existentes e disponíveis em número mais que suficiente para um trabalho útil, rápido e rentável, a limpeza só não é realizada por meras razões políticas em prejuízo da economia da Nação.
Outro grande número de incêndios tem origem criminosa, e são provocados porque há falta de respeito pelo património e pelas pessoas, e é neste aspecto que do meu ponto de vista, penso que a política de sensibilização seguida, alertando as pessoas para o perigo dos incêndios e para os cuidados a ter para os evitar, falhou, sendo assim, resta como ultima solução a repressão ou a punição para quem comete tais atentados.
A verdade é que os governantes são demasiado liberais em legislar no que toca a muitos dos nossos valores e comportamentos, que quase deixam á mercê da consciência individual de cada um, porém quando toca a arrecadar impostos, usam mão dura e pesada para quem não cumpre, então porque não usam o mesmo método ou principio sensibilizativo neste caso e não deixam o seu cumprimento á livre consciência de cada um? A medida seria justa se compararmos a relativa importância das áreas em questão, mas nós sabemos que os impostos se pagam não por respeito para com um sistema que esbanja continua e inutilmente os milhões do contribuinte, mas sim por medo, medo ao relaxe ou á cobrança coerciva, assim, estão dois valores em questão: o respeito e o medo, e se um não resulta, resulta o outro, logo, é inaceitável a contínua passividade dos responsáveis que teimam em seguir políticas e estratégias provadamente ineficazes e inúteis que acabarão por permitir a destruição do nosso património florestal com as suas desastrosas e talvez fatais consequências.
Se não há respeito e ninguém tem medo, aonde nos levará o futuro?
Agosto de 2000

Dr. Armando Gonçalves

Homenagem

Não é nem nunca foi meu hábito, por princípio e pelas razões éticas que há muito me norteiam, adular uma pessoa seja ela abastada ou humilde, mas assiste-me o direito de prestar homenagem ou distinguir quem de tal for merecedor, segundo o meu próprio critério e sem alinhar a reboque de quaisquer interesses alheios ou duvidosos.
Não é a posição social ou politica que define a personalidade de um cidadão, mas sim o seu comportamento perante a sociedade e a capacidade com que actua dentro da esfera que lhe está cometida desenvolvendo a sua actividade de acordo com os valores dele esperados.
Apesar do materialismo estar a conquistar cada vez mais adeptos e a ser ignorado o respeito que todo o cidadão deve merecer, há ainda quem por respeito a esse mesmo cidadão, demonstre profissionalismo e espírito de entrega à missão por que optou, não sem alguns sacrifícios e privações de que por vezes nem damos conta mas que estão bem patentes no seu dia-a-dia.
É costume deixarmo-nos conquistar pelos dotes oratórios de um qualquer, sem saber quase nada do seu perfil moral ou humano, e render-lhe elogios imerecidos como se a simpatia de que possa ser portador, e nada mais, fosse o único padrão elegido para justificar a nossa rendição, ao contrário, há pessoas que dedicam a vida inteira ao serviço de uma comunidade mas que por ela são inocente ou deliberadamente esquecidas e subestimadas.
Habitualmente e não sei se por egoísmo se por orgulho, não reconhecemos em vida a valia de personalidades e a quem tardiamente depois de “deixarem de ser” homenageamos como que por vaidade e simplesmente para satisfazer o nosso ego.
A propósito e porque amanhã já pode ser tarde, quero prestar homenagem a duas figuras que embora separadas por cerca de quatro décadas têm em comum o múnus exercido ou a exercer nesta terra, a quem um deu e outro continua a dar, o contributo do saber adquirido e a colocá-lo ao serviço do povo, refiro-me a dois médicos a quem o Soito muito deve; primeiro o Sr. Dr. Armando Gonçalves, chegado ao Soito em 17 de Fevereiro de 1945 e que durante mais de meio século atendeu milhares de pacientes, tanto desta povoação onde residia, como de muitas outras aldeias do concelho, já que atendia os seus doentes também na Vila do Sabugal em consultório que durante largos anos ali manteve aberto.
Não faltarei a verdade se disser que com a sua chegada e mercê do seu trabalho e conhecimentos, diminuiu consideravelmente a mortalidade infantil nesta região e que não apenas por isso, a maioria dos habitantes desta terra têm para com ele uma divida de gratidão que, no meu entender, ainda estão a tempo de saldar, pois cinquenta anos de dedicação a um povo merecem ser comemorados, assim; porque não prestar-lhe um reconhecimento colectivo através da organização de um almoço de homenagem, de preferência organizado por iniciativa dos representantes do povo que foi beneficiado?
É apenas uma sugestão que tenho o direito de propor tal como as entidades referidas têm o direito de ignorar.
Também os inúmeros casos de sucesso profissional, ou até de insucesso que o Dr. Armando teve em mãos durante estas cinco décadas seriam motivo mais que suficiente para que alguém habilitado os pudesse descrever em livro perpetuando assim uma vida que está a esgotar-se no tempo mas que a memória não devia esquecer.
Outra personagem digna de relevo que podemos apelidar de o continuador, é o Sr. Dr. José Serra que vai quase em duas décadas serve os doentes desta Vila numa disponibilidade efectiva nem sempre compreendida por alguns (quem é que agrada a todos?) e que bastas vezes sacrifica as suas horas normais de almoço, e quantas de justo ócio? a favor do atendimento aos doentes sob a sua responsabilidade.
Por último quero dizer que embora do ponto de vista externo, ser médico se nos afigure uma profissão de sonho, não é realmente o que parece, e só quem está inserido nos meandros da actividade ou dela for um pouco conhecedor, pode avaliar o sacrifício que tantas vezes se lhes depara e que são obrigados a enfrentar, pois, a poucas mais profissões é exigido tanto como a um profissional médico.
Dez 2002

JUSTIÇA....

Toda a gente sabe como a justiça é lenta, como prescrevem milhares de processos e como, muitas vezes, um pequeno delito é sancionado e o seu autor condenado enquanto grandes crimes se arrastam sem solução à vista e os culpados ainda se orgulham dos seus feitos que, contam, explicitamente ou não, com o beneplácito do poder instituído.
Em 1950, creio, não havia montes de processos a ocupar as instalações judiciárias e as sentenças eram pronunciadas num espaço médio muito mais curto do que são hoje e porquê, perguntaremos todos?
O aumento da população, de cerca de 8 para 10 milhões, não é razão aparente para um tal avolumar de processos, embora se saiba que a conjuntura económica, social e comportamental dos cidadãos é bem diferente hoje em relação a pouco mais de meio século atrás, porque se então, o numero de juízes se cifrava em 300, mais 45 desembargadores, sendo 2 do conselho do império colonial, e 23 conselheiros, (estão incluídos os juízes da Madeira e dos Açores) hoje esses números são em média cinco a seis vezes superiores já que temos cerca de 1.800 juízes, (só no Continente) mais de 300 desembargadores e 70 conselheiros, no entanto, as leis pelas quais se regem estes profissionais são na maioria das vezes um impedimento a que se faça justiça mais célere, pois os direitos dos réus ou presumíveis réus são largamente superiores aos direitos dos ofendidos, das vítimas.
Criticamos a justiça, pela sua lentidão e ineficácia, mas é o Estado (os legisladores) o culpado da situação quase caótica a que a justiça está a chegar e na qual uma grande parte do povo já não acredita.
A confusão e desencontro e até imorais leis de um Código Penal que facilita o crime, são a razão da pouca produtividade dos juízes, que nada podem fazer contra as leis que lhe obstruem uma actuação justa e pronta.

Obs. Dados obtidos a partir do Boletim oficial do Ministério da Justiça Nº. 23, 2ª série referente a 1 de Julho de 1951 e do Conselho Superior da Magistratura (2007)

SER PROFESSOR...HOJE!!!

Não sou professor, nem estou aqui como seu defensor, mas fui aluno numa época em que ser professor era sinónimo de respeito, dignidade, carinho e responsabilidade.
Os professores eram merecedores, por parte dos alunos, dos pais e até do próprio Estado de um sentimento de deferência a que outros profissionais não podiam aspirar e todos reconheciam a dignidade e a relevância do seu papel na sociedade com um misto de apreço e consideração.
Fui aluno de uma professora, que mesmo doente leccionava aos seus alunos da própria cama onde se encontrava, debilitada, mas cumprindo o dever que assumira para com eles, seria isso possível hoje?
Os tempos mudaram e, desde há algumas décadas, principalmente nos últimos anos, o professor passou a ser como que o bombo da festa em que todos batem: alunos, pais ou avós dos alunos e até o próprio patrão, o Estado, com leis que os desmotivam e desconsideram, levando muitos deles a interrogar-se seriamente se é esta a profissão que escolheram e querem seguir.
Acredito que, perante o actual estado do Ensino, muitos docentes renunciariam à sua profissão se encontrassem outra ocupação mais ou menos compatível com as suas qualificações e também não me admiraria se dentro de alguns anos viesse a haver falta de professores.
“O edifício da escola” tal como era aceite e entendido, ruiu, porque o respeito e a autoridade foram dele expulsos levando a que os “valores” descessem a níveis preocupantes bem próximos da anarquia num rápido caminho rumo à degradação do ambiente escolar.
Não é com leis atentatórias nem com polícias à porta das escolas que o Estado vai resolver o problema que ele próprio criou, não é diminuindo ou desclassificando uma das classes mais importantes do país que melhora o ensino.
Há ainda outras condicionantes que limitam, ou neutralizam até, a tarefa do professor: é a Televisão, o oposto do professor, que deseduca e compete com os docentes semeando violência gratuita a qualquer hora do dia e enaltecendo comportamentos eticamente reprováveis que mentes em formação facilmente assimilam como normais.
O futuro de qualquer país são os alunos e quem prepara esses alunos são os tais professores que o Estado desmotiva, logo, a qualidade do futuro pode estar em causa.

É preciso ganhar o respeito e a autoridade, que não deviam ter sido banidos da escola, e devolver aos professores a dignidade e o respeito que a sua missão exige.

Publicado em Dez 2008

terça-feira, 16 de março de 2010

Razões...

Não é preciso possuir um título de sociólogo ou comentador político, para se aperceber com clareza que a extrema-direita na CE, está a subir mercê da incompetência de alguns governantes, que enfeudados a um sistema de privilégios e imunidades sob os quais se acobertam, imersos no luxo e na opulência, eles e os acólitos que os rodeiam, a lembrar os reis e os senhores feudais de outras eras, distribuem milhões por quem bem entendem e regateiam tostões para o verdadeiro povo que tratam como se os cidadãos que o compõem fossem de segunda classe e sem perceberem, ou fazerem que não percebem, que não é com o a imposição de sanções que vão impedir a ascensão dessas forças, antes fazendo um exame de consciência ao seu comportamento, descobrir e alterar o que se torna necessário e inadiável, isto se ainda forem a tempo.
A C.E., quase pelas mãos de Portugal, impôs sanções á Áustria como retaliação pela ascensão ao Poder de um partido de extrema-direita, sem que os austríacos houvessem cometido algum crime, mas unicamente porque usaram um direito que lhe foi dado: votar.
Tanto quanto sei, não houve na Áustria quaisquer acontecimentos racistas violentos como houve na Alemanha contra os Turcos, na França e em Espanha já recentemente com os Árabes ou Africanos, então pergunta-se, que critério usa a CE para julgar os seus membros? Será que as palavras são consideradas mais crime do que os factos reais?
A Áustria como país pequeno foi sancionada por nada ter feito, a Jugoslávia cometeu crimes e foi invadida porque não era grande e poderosa, a Rússia tem vindo a cometer atentados bem mais terríveis e vergonhosos, esmagando, matando e destruindo um povo, mas a C.E neste caso, não tem coragem para denunciar tais crimes, que estes sim, foram e são reais, podia perguntar-se: por que leis se rege a Comunidade para julgar?
Há cidadãos que são perseguidos em muitos países, mas as vozes que atacam e condenam alguns desses países, calam-se e toleram as arbitrariedades de outros, num conceito de justiça podre e decadente.
É urgente que os políticos ditos democráticos, parem e meditem nas razões da subida da extrema-direita na Europa, e saibam concluir que são eles os únicos culpados, devido á quase falência das suas ideias, e á incapacidade de pôr travão á corrupção galopante, á droga, aos incêndios, á insegurança dos cidadãos, ao medo, á violência e a outros tipos de tropelias ou chagas sociais a que o povo está sujeito, bem como á negligencia em assegurar a justiça e o direito, que muito deles, dizem ser garantes.
É normal que qualquer doente, cansado de recorrer aos médicos tradicionais e desesperado pela ausência da cura, se volte para bruxos ou curandeiros na esperança de obter melhoras, não por convicção, mas por necessidade de mudança, o mesmo acontece com os cidadãos que desiludidos e cansados de acreditar e sentindo-se enganados, colaboram por vezes para a instauração de maiorias de ideologia inaceitável, por oposição a políticas em que já não acreditam e que não respondem aos seus anseios mais justos.
É verdade que as maiorias nem sempre têm razão, e por vezes surgem, devido ao descontentamento gerado no povo pelo comodismo das forças reinantes, que são incapazes de atender às suas justas pretensões, ocupadas que estão, olhando apenas para si próprias, amigos e afilhados, foi por isso que Hitler subiu ao Poder, e outros tais podem surgir, se os actuais dirigentes mundiais continuarem a olhar só para os seus interesses e comodismos.
A liberdade de expressão é um direito, mas esse direito deve ser acompanhado pelo respeito, pela justiça e pela segurança, caso contrário, não é de todo surpresa, que haja quem seja capaz de trocar a faculdade de poder falar pela garantia de viver em segurança e autoridade.
Não pode, quem é incapaz de manter a autoridade em sua casa, querer impo-la aos outros pela força.

Formação profissional...para os políticos!!!

Nunca como hoje, houve tantos cursos de formação profissional nas mais diversas áreas e profissões, através dos quais são dados subsídios aos formandos, ao contrário do meu tempo em que muitos eram forçados a pagar para aprender.
Não duvido da utilidade e necessidade de tais programas, já que se forem aproveitados, podem elevar o nível de competência e conhecimento, para além de uma crescente valorização pessoal que se deve desejar real.
São abrangidos por tais cursos, os mais diversos e imaginários ofícios, no entanto há uma lacuna grave, que no meu entender devia ser preenchida com urgência: a criação de cursos de formação para candidatos a políticos, ou, o que seria ideal, uma escola superior, capaz de formar os futuros governantes e dar-lhe de mais o que sabemos têm hoje de míngua.
Todos sabemos e conhecemos a falta de competência, de capacidade e de diplomacia, de que sofre a maioria dos políticos e que acedem a elevados cargos de responsabilidade sem que tenham um mínimo de formação para além das capacidades de retórica, tantas vezes enganosa nas palavras de mel, mas cheias de hipocrisia, mentira e fel.
Todos os trabalhadores, necessitam de um tempo de aprendizagem e frequentam vários tipos de ensino até se tornarem profissionais e como tais aceites no mercado de trabalho, daí que os políticos devam estar sujeitos às mesmas regras e lhe seja exigido um elevado grau de conhecimento, preparação e competência, compatíveis com a responsabilidade que virtualmente pensem vir a assumir, não é justo que por vezes haja incompetentes a dirigir quem é reconhecida e sobejamente mais capaz.
Se um Estado é, diga-se, a maior “Empresa” de qualquer país, porque não procede da mesma forma que as Empresas, recrutando para dirigentes, os melhores e os mais qualificados, em vez de abrir as portas tantas vezes a oportunistas ambiciosos sem escrúpulos, ou a afilhados impreparados?
Se o valor dos políticos fosse calculado em acções, e estas cotadas na Bolsa, a sua cotação estaria por baixo, a limites preocupantes, á beira da bancarrota, e apenas e exclusivamente por culpa deles mesmos e do seu comportamento pouco credível, mas podem redimir-se desse negativismo se forem capazes de legislar em concreto e sem ambiguidades, no sentido da criação dessa mesma escola, evitando assim que qualquer aventureiro, oportunista bem-falante e “habilidoso” possa assumir cargos públicos e dê ao povo reprováveis e negativos exemplos de comportamento,
O mau nome, ou conceito, em que se têm os governantes é motivado pelas acções e pela postura que assumem tantas vezes vergonhosa, senão escandalosa.
Que façam alguma coisa por eles mesmos... e por nós!
Mar 2010

O Alcool

Desde há vários anos, os órgãos de comunicação social e alguns governantes vêm dizendo que o nosso país é um dos maiores consumidores de álcool do Mundo.
A ser verdade, e isso depende da fiabilidade do critério usado para chegar a tal conclusão, que tem feito o governo, ou os sucessivos governos, para combater, ou inverter essa tendência que certamente todos julgamos negativa e pouco abonatória da personalidade e do comportamento de um povo?
Tanto quanto sei, o consumo do nosso vinho e aguardentes, tem vindo a decrescer há já bastantes anos, em benefício de bebidas destiladas importadas, ou falsificadas, como o whisky, gin e a vodka, não sendo de ignorar também a cerveja cujo consumo tem aumentado principalmente por parte da juventude.
É vulgar fazerem-se festas a muitas dessas bebidas, em discotecas ou outros estabelecimentos do género, muitas vezes promovidas pelas respectivas marcas que assim aliciam os consumidores menos prevenidos tornando-os mais dependentes os seus produtos. Há ainda a salientar o facto de que muitos desses clientes são efectivamente menores e que embora a lei lhe proíba a permanência, não tem, ou não pode dispor convenientemente de meios para a controlar.
Quanto às ditas festas promocionais, desconheço se alguma foi até hoje, feita ao nosso vinho, ou se qualquer marca de águas fez tal promoção.
Se o problema existe não pode ser ignorado, e pressupondo que as leis e os exemplos nos são dados pelos de cima, isto é os governantes, deve ser dito que para além das palavras pouco mais se lhe pode apontar de positivo.
Certamente que não há varinha mágica que solucione o problema de um dia para o outro, mas não fazendo nada é que o processo jamais será invertido.
Pela parte dos governantes não espero grandes alterações de comportamento, já que se são incapazes de debelar a praga da droga apesar de no seu combate gastarem milhões e sem que do seu comercio ilícito arrecadem um centavo, assim e comparativamente, como podem combater o álcool, cuja comercialização taxam com elevados impostos se pouco ou nada investem para diminuir o consumo?
É ainda incompreensível de todos os pontos de vista possíveis, que o Estado tribute a nossa aguardente com um imposto várias vezes mais elevado comparado com o que faz com bebidas estrangeiras de semelhante teor alcoólico, será que quem legisla na matéria, o faz tomando por referência o conceito de equidade?
O título atribuído a Portugal, de país mais bebedor, que em nada nos orgulha, deve ser motivo para que todos os esforços se unam, quer os do Estado, quer de outras entidades interessadas em que o nosso País saia do primeiro lugar, e em vez de discursos de retórica passe-se a uma acção efectiva.

Revolução e Liberdade...

Vão comemorar-se 36 anos, sobre a data em que se realizou a revolução do 25 de Abril e é tempo de fazer um balanço do que de positivo, ou negativo, esse dia trouxe aos cidadãos deste País.
Claro que não sou nem me arvoro em comentador de causas políticas, mas tenho ideias, conceitos e conhecimento de causa que muitos dos Portugueses não têm, já que á data da revolução eu já contava com mais de trinta anos de vida.
Foi de louvar a atitude do povo, educado e respeitador, que á data, procedeu com maturidade, frente a alguns interesses porventura obscuros e apoiou sem reservas a revolução dos cravos, se fosse hoje, seria igual?
A revolução (dizem) foi feita pelo povo e para ao povo dar benefícios e direitos, o que a meu ver, hoje não corresponde á verdade, pois se pesarmos os prós e os contras não sei para que lado cairá o prato da balança.
Uma revolução tira regalias a uns para as dar a outros, mas apenas às classes governantes pois que jamais povo algum no Mundo obteve dividendos de qualquer revolução.
Antes não se podiam comentar nem criticar as ideias ou as posições dos representantes do Estado, já que eles seriam os únicos donos da verdade, hoje podemos fazer isso, mas de que vale o homem poder falar, se a sua ideia ou projecto não é sequer ouvida nem tida em conta pelos políticos que continuam como dantes a fazer igual ou pior e só o que bem entendem.
O povo é sempre apontado pelos políticos como sendo a razão da sua luta, mas isso não passa de pura demagogia e todos nós o sabemos perfeitamente.
A liberdade que alguns apregoam, será mesmo liberdade, ou não passará de libertinagem ou semi anarquia, onde uns quantos violam os direitos de muitos mais em seu benefício pessoal ou familiar?
A liberdade só existe se existir direito, segurança e justiça, o que não está minimamente garantido, porque uns poucos continuam a ter regalias, imunidades e a usufruir de privilégios, enquanto a maioria do povo continua a ser explorada e tratada como gente de segunda classe.
Se liberdade é haver quem legisle para si próprio, salários e reformas astronómicas, vivendo uma vida faustosa, e dar esmolas de sobrevivência e miséria ao povo, Se liberdade é promover ou tolerar a violência, os vícios, a droga, a calúnia, a corrupção, o saque de valores pessoais ou nacionais e o derrube dos valores morais, então o conceito que tenho de liberdade está errado.
É ou não verdade que muitas vezes é dada protecção a criminosos, como se cometer um crime fosse um direito ou para isso lhe fosse dada liberdade, enquanto as vítimas são ignoradas e esquecidas no tempo?
As Associações para defender réus e criminosos, proliferam com nomes sonantes mas quantas existem para defender as vítimas?
Termino por dizer que pouco vale a um cidadão poder falar e ter liberdade de expressão, enquanto houver direitos que não lhe são garantidos, como sejam a segurança, a saúde e principalmente a dignidade ou a honra, hoje tão escamoteadas.
Março de 2010

Ontem...e hoje?

As diferenças existentes entre o passado, seja ele recente ou distante, e o presente, levou-me a escrever estas linhas e a expressar o que penso a propósito do comportamento da sociedade e da sua evolução por vezes bastante negativa.
Ontem a água dos rios era limpa, e em alguns deles bebi, nos Verões escaldantes da minha juventude, hoje, nesses mesmos rios, a água corre de tal modo poluída, que nem a fazer natação me atreveria.
Ontem, o asseio espelhava-se no ambiente e era agradável passear pelos caminhos, estradas ou campos e qualquer espaço estava limpo para fazer um piquenique, hoje o lixo acumula-se um pouco por todo o lado e qualquer parque ou largo á beira da estrada em que estacionemos, encontra-se pejado de detritos nada convidativo a que seja ali saboreada uma pequena merenda, um lanche, ou um fugaz descanso.
Ontem, puniam-se os culpados e garantia-se a segurança do cidadão, hoje os marginais são libertados e têm por paraíso esta Nação; quem rouba pouco é detido e quem muito desvia é promovido.
Ontem, as portas, quer das residências quer dos celeiros, eram fechadas apenas com a aldraba, as fechaduras não tinham procura porque as pessoas confiavam no seu semelhante, hoje tudo é fechado a fechaduras cada vez mais sofisticadas e ninguém se sente seguro nem confiante.
Ontem a convivência era sã e as pessoas humildes e respeitadoras, hoje devido ao orgulho que mina a humanidade, ninguém precisa de ninguém e todos somos os maiores.
Também noutros tempos a palavra valia como honra de quem a proferia e valia como garantia de promessa ou compromisso que certamente seria cumprido, hoje a língua é demasiado afiada, promete-se, jura-se, mas no que toca a cumprimento todos sabemos o que se passa, salvo raras excepções como em tudo o mais.
Podiam ser analfabetos os nossos antepassados, mas eram educados e respeitadores, hoje apesar de abundarem os bacharéis, licenciados, mestres, doutores, etc., nem por isso a educação acompanhou a formação académica, o que pode ser verificado a partir dos nossos políticos, cujo exemplo em vez de formar, degrada.
Ontem o comunitarismo era real e vivido em muitas das nossas aldeias, a entre ajuda fazia parte da cultura do povo, hoje, o individualismo é como que uma religião que cada qual professa á sua maneira.
Ontem, ao políticos cortavam fitas, aquando das inaugurações, hoje, para não copiarem,
descerram bandeiras e destapam placas comemorativas com o seu nome.
Ontem, as Mães de família, coziam o seu pão e confeccionavam os alimentos com os produtos que a família produzia quase em exclusivo, hoje, que quase tudo compramos feito e á vista das ditas melhorias ou manipulações genéticas dos alimentos cuja proveniência desconhecemos, que estaremos nós a comer?
Ontem, os mais pobres e necessitados de cultivar um pedaço de terra para sustento da família, tomavam por arrendamento parcelas de terreno, obrigando-se a dar três partes da colheita ao proprietário, quedando para eles apenas um quarto dessa produção, hoje há quem dê a terra de modo gratuito e não há quem a cultive.
Ontem, as Igrejas estavam cheias em sinal de fé, ainda que um pouco baseada no medo que era incutido nas crianças, por muitos pais e sacerdotes, hoje, uma fé mais assente no amor, vemos pela presença nas igrejas semi vazias, o baixo conceito em que esse amor é tido.
Ontem, eu ainda sou desse tempo, partia-se uma sardinha para dois e a comida era como que racionada, mas ainda assim as pessoas eram alegres, honestas e nem para comer roubavam,
Hoje, quase todos de barriga cheia, a maioria dos roubos são feitos para sustentar vícios que a sociedade não é capaz de debelar.
Ontem, o respeito era uma constante, quer no seio familiar, quer quanto a professores, mestres ou autoridades, hoje não há respeito por nada nem por ninguém e as crianças que noutros tempos eram dóceis, submissas e respeitadoras, são hoje, na sua maioria, rebeldes e usam uma linguajem que faria corar alguns adultos de outras eras.
Ontem, o vinho foi culpado e condenado por todos os males de trânsito deste país e contra ele foi lançada uma campanha injusta por parte de alguns governantes, hoje, é promovido e vendido whisky e outras bebidas espirituosas como se de um chá se tratasse sem que as autoridades abram o bico em contrário.
Ontem vivia-se a menos de metade da velocidade que se vive hoje, desde o arar a terra aos transportes, comunicações ou outros tipos de produção e o homem tinha tempo para tudo, contudo hoje, e apesar de todas as comodidades, facilidades e velocidades, o homem diz que não tem tempo, porquê?
Ontem, os nossos jovens eram sãos, sem vícios, trabalhadores, hoje muitos caem na droga, destroem a vida, sua e dos seus, enquanto os grandes barões traficantes se passeiam intocáveis prontos a aliciar os simples e incautos para o seu mundo sujo, onde só o dinheiro conta e a vida dos outros nada vale.
Ontem, as notícias eram transmitidas como informação, hoje uma grande maioria são fabricadas para vender jornais ou ter mais audição televisiva.
Ontem, quer dizer noutros tempos, a lei era imposta pela força muscular, o que ainda acontece na maioria do reino animal, hoje no homem a lei é imposta por quem tem dinheiro e pode comprar armas, ainda que seja um parasita, doente ou desequilibrado mental e o planeta pode muito bem ficar á mercê de um desses loucos e vir a sofrer as consequências que podem ser irremediáveis.
Ontem era assim, hoje é como é, e amanhã, como será?

O lixo e a poluição

O lixo está hoje presente na nossa vida, como não o esteve em outra qualquer época da história humana, e somos nós todos, para além dos únicos culpados, também as vítimas da degradação contínua e da aceleração negativa que se vai projectando na qualidade do ar que respiramos e da água que bebemos.
É á beira dos caminhos ou estradas, dos rios, ribeiros e suas margens, nas ruas e parques de muitas cidades e até nas zonas menos acessíveis e ditas protegidas, aí se encontra disperso o lixo e sucata, desvirtuando a paisagem e tornando desagradável o que devia ser um deleite para quem procura desfrutar da natureza.
Portugal já foi um jardim acolhedor, onde o prazer de passear era uma realidade, era verde e as flores cobriam grande parte dos seus campos, mas hoje em vez de neles plantarmos flores estamos a degrada-lo com toda a espécie de lixo.
Não aponto responsáveis pela situação aberrante a que estamos chegando, ou pela tragédia que se avizinha, pois a todos nos cabe uma quota-parte dessa culpa, quer pela produção exagerada de lixo, quer pelo errado destino que por vezes lhe damos, no entanto, cabe aos governantes, legislar e encontrar soluções que atenuem ou minimizem os efeitos agressivos do lixo e da poluição, isto se forem capazes de sacudir o jugo e a dependência em que se encontram face às grandes multinacionais que tudo controlam e dominam com a mira apenas no lucro fácil e cada vez maior.
Construir e pôr a funcionar estações de tratamento e incineração, não vai acabar com a origem da poluição, vai apenas transformar um veneno existente, noutro talvez mais perigoso e de efeitos incalculáveis. O que é verdadeiramente necessário, é diminuir a produção de lixo e diminuir as fontes de poluição; encontrar formas mais viáveis de comercialização, no que concerne a embalagens, e á qualidade da matéria-prima que as compõe, voltar á tara recuperável, revolucionar os combustíveis, procurando e incentivando as energias limpas e renováveis, etc. e isto, custe a quem custar.
Certamente dirão que os preços dos produtos sofrerão um acréscimo, mas então não é o mesmo povo que paga, ainda que indirectamente os custos das lixeiras e da recolha e tratamento do lixo?
Se pagar mais por um artigo não poluente, não estará a reduzir a produção de lixo a diminuir a poluição e a investir no futuro?
Nós, geração de fim e princípio de outro milénio, poluímos mais nas últimas três décadas, do que outras gerações o fizeram em milénios, e se não formos capazes de encontrar solução para inverter a tendência, estaremos a caminhar para o precipício apocalíptico e legaremos aos nossos descendentes, em vez de um mundo limpo e um ar respirável, talvez apenas um caixote de lixo e uma atmosfera estéril e enferma.
Não pretendo com o que acabo de expressar, ser pessimista nem alarmista, mas realista tenho que ser, e não posso pensar de outro modo a menos que com argumentos validos me convençam do contrário.
O futuro depende de nós, e se não lutarmos por ele, ele não existirá. 2007

segunda-feira, 8 de março de 2010

Hipers e Centros Comerciais

Os Hipermercados e Centros Comerciais

Por uma questão de comodismo, todos nós gostamos de ter á mão, ou cada vez mais facilitada, a aquisição dos artigos de consumo diário, mas na prática desvalorizamos aqueles que contribuem para que isso seja possível: os pequenos comerciantes locais.
Numa época em que as grandes superfícies ou centros comerciais, usando as mais modernas e agressivas técnicas de Marketing apelam ao consumismo, colocando ao nosso dispor e de maneira cada vez mais atractiva, milhares de artigos, uns talvez úteis e necessários, outros nem tanto, é fácil cair na velha tentação da curiosidade e da descoberta, por isso aí vamos nós por essas estradas fora, á espera do milagre dos preços, comprando tanto o útil e necessário, como o inútil e dispensável.
Não sou de modo nenhum contra esses mega estabelecimentos, porque também são necessários ao equilíbrio comercial, mas entendo que podem estar a pôr em causa a continuidade dos pequenos retalhistas e assim, vir hipoteticamente a privar os consumidores dos meios rurais desse bem, que para além de material é também social, e a promover o aceleramento da desertificação.
Sabemos que nos grandes Supermercados, não somos mais que uma máquina a explorar; de cliente, temos apenas o nome, não conhecemos donos ou empregados, não há tempo nem espaço de conversa e da nossa breve passagem fica apenas a semente dos Euros na caixa ou debitados em conta bancária.
No comércio tradicional, por norma, há uma relação vendedor/cliente mais humanizada, há dialogo e amizade, há facilidade de crédito e mesmo ali ao lado, sem exigência de aval, porque o pequeno comércio serve e tem o cliente como amigo, valores que nos grandes espaços não têm cabimento.
Sabemos que os comerciantes locais, alguns, têm vindo a modernizar os seus estabelecimentos comerciais, de modo a torna-los mais atraentes e que esse esforço tem continuidade pelo que me é dado observar, esperamos que sim para bem de todos não só dos comerciantes, mas também dos clientes que deles precisam.
Sem querer enveredar pela adivinhação, actividade hoje tão aceite e promovida, não me surpreenderia se dentro de uns anos, em algumas das nossas aldeias, não houvesse sequer uma caixa de fósforos á venda, e que os seus habitantes tivessem que se deslocar léguas para as adquirir, gastando mais em transporte do que em valor de compras.
Isso só pode ser impedido com o empenho de todos, pois todos beneficiamos com a existência de casas comerciais tradicionais.
Para terminar e sem querer intrometer-me: uso apenas o meu direito de opinião, é constrangedor ver funcionários a trabalhar sábados e domingos, sem o convívio da família e dos filhos. Estes são os dias em que podiam estar juntos e desfrutar da sua companhia como se fossem uma família, já que nos restantes dias há a escola ou a creche que impossibilita essa convivência. A relação familiar está a ser afectada pelos Hipers e Centros Comerciais e nada voltará a ser como dantes!!!!
Out 2009