sábado, 29 de janeiro de 2011

INÈRCIA

Pelo tipo de comportamento de um povo, pode avaliar-se o todo de um país e concluir que as diferenças não são significativas.
O povo, e eu não me excluo desse povo, usando apenas a lingua ou a pena, queixa-se, critica, inveja e revolta-se contra tudo e contra quase todos, mas age como se fosse um asno a quem é fácil colocar albarda, arreios e carga, e em pouco, ou quase nada, reage fisicamente.
Temos vindo a assistir, desde há alguns largos anos, embora não fosse muito diferente ao longo da história, fosse qual fosse o sistema de governo no poder, a uma diminuição da pessoa como gente, que vê cada vez mais reduzidos os seus direitos à excepção do uso da critica, que normalmente é destrutiva.
Vejamos algumas situações alarmantes que tombam cada vez mais para o lado negativo: Os salários reais têm vindo a encolher. A segurança no emprego é cada vez mais uma miragem. A segurança de pessoas e bens nunca, em tempos de paz, desceu aos preocupantes níveis de hoje. A justiça, funciona, quando funciona, a uma velocidade que faz lembrar as locomotivas a vapor ou os candeeiros a petróleo, em resultado de legislação errada e beneficiadora dos réus, (dos que têm dinheiro para usar essas leis) A publicidade é cada vez mais enganosa e ninguém a controla. Os preços dos bens essenciais sobem em percentagens sempre superiores aos salários ou ás reformas da classe média ou baixa. As reformas e salários dos politicos e seus compadres ou afilhados, são cada vez mais avultadas em relação ás migalhas que a generalidade do povo recebe como esmola. Os desempregados são cada vez mais, mas há cada vez mais gente da política com duas, três ou mais ocupações acumulando as respectivas remunerações. Um emigrante que tenha descontado neste país e no de acolhimento é penalizado na hora da reforma enquanto os portugueses de primeira são promovidos á data da reforma para auferirem valores superiores aos que tinham no activo e muitos acumulam reformas sem que se lhes retire um centimo. Não há dinheiro para aumentar as pequenas reformas, mas há centenas de milhões para manter “instituições” cujos gestores, impunemente, não se cansaram de esbanjar, arruinando-as ou levando-as à falencia. As reformas dos contribuintes do regime geral não podem ultrapassar os 80% do salario, mas alguns portugueses, os tais de primeira, recebem valores superiores àqueles que recebiam enquanto no activo.
É cada vez maior o numero de parasitas que vivem à custa de quem trabalha e que o próprio Estado apoia, defende e privilegia.
Perante estas situações escandalosas, o povo aceita, submete-se, acomoda-se, quase vegeta e continua a fazer vénia ao poder, daí que, possivelmente, num futuro bem próximo, se não reagir e vencer a inércia, carregará a albarda e a carga e até o direito a urrar lhe será tirado.
Verdadeiras continuam as palavras de Guerra Junqueiro em Finis Patria:

E o povo? Inerte. E o Rei? À caça.
Quem é que impera? O Deus Milhão...
Ah! como é bom em tumba escassa,
Longe do Sol que vê tal raça,
Dormir, dormir na escuridão.

Justiça???

JUSTIÇA?
Todos, ou quase todos, nos queixamos do modo como funciona a justiça e de como a morosidade, os enredos em que é envolvida e as insuficiências ou a permissividade das leis, limitam os agentes judiciários ou até os impedem de julgar com justiça e equidade.
É sabido como os grandes processos, que envolvem gente com capacidade económica ou influencia política, são arrastados, muitas vezes indefinidamente até à prescrição, ou como são usados todos os estratagemas possíveis e imaginários, para evitar que sejam levados ao fim, enquanto os pequenos delitos são sancionados com uma celeridade doentia e duvidosa apenas porque os “réus” não têm capacidade para contratar um batalhão de advogados de elite, o que é permitido a quem tem dinheiro, gerando-se assim uma injustiça que os responsáveis pela tutela nem sequer admitem ou pensam alterar.
Mas teremos nós razão para nos queixarmos da justiça que é feita pelos agentes que estão de tal tarefa incumbidos?
Seremos nós justos na avaliação que fazemos do outro, que até vive ao nosso lado, que conhecemos, e tantas vezes condenamos, sem provas e sem o ouvir, apenas baseados na palavra de um qualquer boateiro que movido pela maldade ou pela inveja se permite denegrir a imagem alheia?
Não assumimos nós, muitas vezes, em simultâneo, o lugar de acusador público e de juiz, condenando sem provas e sem permitir ao “réu” qualquer argumentação em sua defesa?
Queixamo-nos da justiça que temos e pessoalmente entendo que temos razão, mas essa razão desaparece quando vestimos a toga e nos auto-investimos de poderes de sentenciar como se fossemos uns pequenos reis, donos e senhores da justiça e da verdade.
Podemos conhecer um cidadão há três ou quatro décadas, saber que sempre foi correcto, saber que nunca nos ofendeu, foi sempre nosso amigo, mas basta o veneno (só o bebe quem quer) dum seguidor de Éris, para desencadear o ódio e daí as nefastas consequências que podem resultar: de amigo ser considerado inimigo sem que nada tenha feito para passar de um extremo ao outro.
Seria bom que todos usássemos a língua com moderação e meditássemos nas palavras que ditamos. Zenob dizia:” aonde vais língua? Salvar ou destruir a cidade?”. Na verdade a língua tanto pode fomentar a paz como fazer a guerra, é um rastilho que pode fazer explodir o mundo, mas também tem culpa o ouvido que aceita a maledicência como verdade.
Enquanto houver agentes do mal a semear boatos, mentiras, fabricar intrigas, e quem nisso acredite, nunca haverá paz nas famílias e por arrastamento…no mundo!!!

15 de Janeiro de 2011